Sempre me chocou. Mesmo quando vivida na primeira pessoa ou na terceira. E há tanto tipo de violência doméstica! É também um problema transversal a todas as camadas sociais, culturais e económicas. É um problema real e, muitas vezes, mortal para uma das partes quando não para as duas ou mesmo para toda a família. Tudo depende do grau da violência. É um problema que vem de longe, talvez por isso se não lhe dê a devida importância. O ditado que afirma que”entre marido e mulher ninguém mete a colher” não pode estar mais errado! Aliás, como tantos outros! Se virmos duas pessoas a agredirem-se, vamos deixá-las prosseguir? Não teremos nós, a sociedade civil, um papel a cumprir? Não será ele o de ajudar duas pessoas incapazes de resolverem os seus problemas seja qual for o motivo, talvez por estarem demasiado envolvidos nele? Quando a violência é habitual, vamos encolher os ombros e deixar andar?
A sociedade civil não sabe bem como agir nestes casos. Mas uma coisa é certa: tem de se denunciar. As autoridades devem estar devidamente informadas sobre organizações, associações governamentais ou não que possam acolher crianças e adultos em risco. Estas deverão ser acompanhadas sempre que tiverem de se deslocar pelas autoridades, evitando casos de vinganças que podem acabar em tragédia. Devem estas pessoas poder mudar de residência e de localidade podendo recomeçar uma nova vida noutra zona do país. É que há problemas que nunca parecem ficar resolvidos, seja de uma parte ou de outra. É necessário que essas organizações e/ou associações vão a escolas, informem as crianças do que devem fazer em caso de violência doméstica, uma vez que são geralmente os filhos que contactam as autoridades. Há que criar toda uma infra-estrutura capaz de dar resposta a todos os problemas relacionados com este tipo de violência. Há muita violência doméstica que não deixa marcas físicas. Há aquelas que deixam feridas abertas para toda a vida se não se conseguirem ultrapassar. Refiro-me à violência psicológica. Muitas vezes, o homem ou a mulher demasiado espertos não querem ver-se envolvidos em escândalos policiais, logo agarram-se cobardemente àquela violência de que se podem ilibar facilmente. Afinal é a palavra dele contra a dela e vice-versa. Geralmente, nestes casos e salvo a presença de testemunhas, que nunca as há, nunca se chega a apurar se houve ou não violência.
Há que sensibilizar as mulheres e os homens que todo o sentimento de pertença muitas vezes adquirida com o casamento não é real. Ninguém pertence a ninguém, ainda que se esteja dependente sentimentalmente de alguém. Todos somos livres. E ninguém ama verdadeiramente quando agride fisicamente a pessoa amada. Isso não é amar. É um sentimento de posse mas não de amor. O amor não é sinónimo de violência. Muito pelo contrário. Quem ama liberta. É um relacionamento tão equilibrado e generoso que engrandece a pessoa amada. Tudo o que for contrário a isto não é amor. Quem pense o contrário precisa de ajuda. E só a própria pessoa o pode fazer. Só a própria pessoa se pode proteger. Os outros podem dar o primeiro passo denunciando a situação mas a própria pessoa depois de devidamente esclarecida, poderá seguir o caminho que for melhor para si. Falo, evidentemente, da pessoa agredida. Mas não será melhor também para o agressor, seja qual for o seu problema, iniciar uma nova vida? Talvez sozinho, pelo menos durante uns tempos, talvez o suficiente parta se tratar antes de iniciar uma nova relação, para evitar que esta acabe como as outras?
A violência não faz parte da relação. Não é sinónimo de paixão. É apenas e somente violência.
A crise exige um grande esforço de todos nós. Refiro-me ao esforço financeiro. Com cortes no salário e o aumento de impostos, temos de cortar forçosamente nas despesas. Num país onde o salário mínimo nacional é uma miséria, comparado com o dos outros países, exige-se ainda mais. Mas a exigência é unilateral, nunca bilateral. Se, de um lado, se exige a quem mal consegue já sobreviver, do outro a situação é quase igual, não se notando qualquer diferença. Esta, a existir, reflecte-se, provavelmente, nos excessos. Ora, mesmo nos excessos, se compararmos com o país vizinho, o nosso ainda consegue superá-lo. Se o primeiro-ministro espanhol, que está à frente de um país que, comparado com o nosso, o suplanta largamente em dimensão e em população, vê as suas despesas, assim como o seu salário, reduzidos, o mesmo se não pode dizer do nosso que, com menos contribuintes, ainda o suplanta. Algo aqui está mal. Há aqui uma lição mal aprendida algures. E sendo um povo que esbarra com a matemática, talvez o nosso primeiro-ministro não tenha feito bem as contas, ou talvez as tenha influenciado. Ninguém está à espera que as pessoas com altos cargos sirva de exemplo, não são, nem devem sê-lo. A sensação dada é que, até nas crises financeiras, há cargos acima das crises. Aparentemente, só em Portugal. Temos uns governantes excepcionais. Deve ser por isso. Só que não nos damos conta. Às tantas, ainda somos acusados de ingratidão. Na comparação efectuada com o homólogo espanhol, o nosso primeiro-ministro destaca-se, pela negativa. Não sei o que se passa na sua cabeça: existem cortes brutais em todo o lado, menos para ele. Se os houver, é só nos excessos. Mas não é só o chefe do governo. Os administradores das empresas públicas também continuam a ter salários muito acima da média nacional. Hoje, ao ouvir os protestos do pessoal despedido da “Ground Force” pensei que, talvez, em vez de despedirem os trabalhadores, devessem começar pelos administradores. Se há crise a culpa não é, certamente deles, mas talvez a administração não esteja a cumprir bem as suas funções. Ou, até, talvez o estado que não parece saber administrar bem o dinheiro que recebe do suor do rosto dos trabalhadores. E eles sabem disso, daí a sua revolta! Tudo neste país é bom, salvo os trabalhadores que, ao que parece, são sempre dispensáveis. Não têm, aparentemente, valor. Mesmo não sendo eles que levam a empresa à falência! Não temos notoriedade. Nem somos donos daquilo que é nosso! Mas eles, sem os trabalhadores, não são nada!
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