É o sentimento pior que alguém pode sentir. É um sentimento castrante em todos os aspectos, que não deixa ninguém evoluir. No filme “Holocausto”, um dos sobreviventes dizia para a cunhada, quando esta lhe apresentou o sobrinho, pouco depois da libertação do campo de concentração, no momento em que todos os judeus buscavam os seus familiares, que o ensinasse a não ter medo. E tem razão. Deve-se ensinar a avaliar as pessoas que têm na frente, mas não a ter medo delas. Precisam de as avaliar para se defenderem delas, mais nada. Estou a lembrar-me do caso de uma colega, que eu substituí na última escola (e única da qual pedi demissão), que ao aperceber-se do ambiente de pessoas más que a rodeavam, e depois de se fartar de aparentar aquilo que não era, para se defender, pediu destacamento por alegados problemas de saúde, deixando os colegas remoerem-se, quando descobriram que ela não era má como eles. “Essa enganou-nos bem” – ouvia-os a sussurrarem pelos cantos entre eles. Percebi que fora isso que a salvara do mesmo destino que me atingira. Avaliar, sim, pelas razões apontadas. Temos também de as ensinar a não terem medo de mostrarem as suas qualidades pelas hipotéticas invejas que elas possam despertar nos que os rodeiam. Percebendo os colegas que têm pela frente, eles saberão como defender-se, sem se questionarem sobre as suas eventuais culpas nas mudanças de atitude nos colegas. Se forem invejosos, eles sabem que terão de conviver com esse sentimento, e seguir o seu caminho, desde que eles não os prejudiquem… o que nem sempre acontece. Isto defendia eu, ao conversar com uma colega de escola que se queixava que os filhos eram boas pessoas e que, à conta disso, sofriam imenso. Mudar? Ela que nem pense nisso! Os filhos não fazem mal a ninguém, porque haveriam de mudar? Mudar revela medo, e nós não podemos esconder o valor que temos, com medo das reacções negativas que eles possam provocar nos que nos rodeiam. São pessoas que vivem para mostrar e não para ser. Aqueles que são têm forçosamente que mostrar. É deles. São eles! Não é fácil viver entre pessoas que mais dispostas estão a prejudicar-nos ou a fazer-nos sentir mal, do que a alegrarem-se com as nossas qualidades e a sentirem-se mesmo honrados por terem colegas tão boas pessoas. É um pouco como a fábula da cobra e do pirilampo que, um dia, chegou à minha mão, por e-mail, da parte de uma das poucas amigas que tenho. O pirilampo, cansado de tanta perseguição por parte da cobra, interpelou-a sobre as razões da sua perseguição ao que a cobra respondeu “Brilhas demasiado!” O medo é um sentimento que temos de ultrapassar se não quisermos ser escravos dos que nos rodeiam… e, para tal, temos de sofrer, infelizmente, as consequências e aprender a lidar com elas. E a defendermo-nos! Mas não podemos desistir!
Engraçado… venho, há já algum tempo, a observar alguns comportamentos hesitantes, no que diz respeito a algumas regras de trânsito que acabam por ser anedóticos, sem contudo me ter decidido a escrever sobre este assunto. Talvez porque já me sinta confusa com tanta confusão! Lembram-se daquelas regras que entraram com furor na vida dos condutores para, depois, alguém vir dizer que já não é assim ou que só assim em certos casos? Acontece que alguns não ouviram esta última informação, pelo que continuam a obedecer a tal regra… é o que acontece no entroncamento junto do bairro onde moro. Há um triângulo, cuja base está voltada para uma estrada e cujo vértice aponta para outra, à esquerda, desembocando esta perpendicularmente naquela. Os condutores que sobem a estrada, para voltar à esquerda, fazem-no de duas maneiras: há aqueles dão a direita ao lado do triângulo e aqueles que sobem mais um pouco, para darem a esquerda ao outro lado do triângulo. Às vezes, encontramos dois carros parados, um a querer dar a esquerda à forma geométrica e outro, mais acima, a querer dar a esquerda. Não deixa de ser cómico! Muitas vezes, ficam à espera, embaraçados, procurando deixar ao outro a iniciativa. Se acrescentarmos a estes outros que se deslocam em sentido contrário, o que dá a direita ao triângulo, não atrapalha os veículos que se cruzam, à passagem do triângulo, que passam pela faixa de estrada deixada livre à sua esquerda. O pior ficam aqueles que, ao quererem dar a esquerda ao triângulo, desenhado no chão, atrapalham as viaturas que circulam em sentido contrário. Quem quer voltar à esquerda, para apanhar a estrada principal, encontra uma hesitante viatura no seu caminho. Aquele tem de parar para que a hesitante viatura o contorne, pela direita. Se acrescentarmos uma outra que vem da estrada principal e quer virar para a outra, no triângulo, encontra as duas viaturas a obstruírem a entrada, para já não falar dos camiões… Sabendo que há espaço para duas viaturas em ambos os lados do triângulo, para que as viaturas se cruzem sem problemas, mesmo para um camião e uma viatura ou para dois camiões, com jeito, não entendo porque se dá a esquerda ao triângulo do chão. Há casos tão complicados que, por momentos confusos, pensamos circular num país do Terceiro Mundo! Afinal, como é? Dá-se ou não a esquerda aos triângulos do chão? E em relação às placas, dá-se a direita ou a esquerda? É que a confusão é grande, a olhar o número cada vez maior de pessoas que fazem de uma maneira e da outra. Que alguém ponha cobro a esta situação antes que aconteça alguma desgraça. E isto não se resolve com polícia, mas com esclarecimento.
Ouvi, há pouco, uma responsável do ministério da Saúde falar sobre o rotavírus que, ao que parece, é um dos responsáveis pelas gastroenterites das crianças europeias. A senhora defendia, em nome da boa gestão dos dinheiros públicos, que nos pertencem, a nós, contribuintes, que não via necessidade de vacinar as crianças portuguesas contra aquele vírus. O número de casos e as consequências nefastas (número de óbitos provavelmente. Será que só agem em caso de calamidade?) não justificava isso. Porque será que toda a gente pertencente à alta esfera do aparelho do estado sabe tudo a ponto de ninguém se interessar pelo que nós pensamos.
Esta intervenção puxou-me alguns anos atrás. A minha filha mais nova esteve internada, por duas vezes, no espaço de um ano, (foi no Outono, julgo eu), no hospital distrital com diarreia, vómitos, febre altíssima que obrigava ao uso de antibiótico intravenoso e de paracetamol de diferentes marcas, que lhe chegou a ser administrado, de duas em duas horas, alternadamente, numa desesperada procura de baixar a febre. Os primeiros dias foram os piores. As noites eram sobressaltadas com tremores causados pela febre e uma agitação que levava a alertar o pessoal de serviço. Pouco a pouco, o vírus foi sendo combatido e a normalidade regressou. As cores das faces vermelhas das altas temperaturas cederam o lugar ao natural rosado. As causas, muitas vezes, não estão no lugar onde as procuramos. Não é só na água, nos objectos ou na comida. As causas dificilmente são apuradas. Nestas duas vezes, nunca ficaria a saber a causa do indesejado encontro, não fosse alguém mencionar a caixa de areia da escola, onde as crianças brincavam, que já precisava de ser mudada. Sabemos que as crianças, salvo raras excepções, quando brincam levam as mãos à cabeça, à boca e a todas as partes do corpo descobertas. As educadoras, provavelmente, depois de alguns casos, desconfiaram da mesma e proibiram as crianças de brincar na areia suja. É claro que há sempre aqueles que se esquecem dos avisos e furam a vigilância apertada. O que é certo é que, a partir daí, nunca mais ouvi falar de doenças. Não sei que espécie de vírus atacou a minha pequenita e os outros meninos internados com o mesmo problema, só sei avaliar o sofrimento das crianças e dos pais. Partindo destas duas terríveis experiências, interrogo-me até que ponto a vacinação não será uma boa prevenção e interrogo-me se não seria uma boa aposta. Questiono-me: e se fosse um filho dessa senhora, um neto… é que há pessoas só avaliam os estragos quando eles lhes batem à porta!
Temos tendência para avaliar as obras de arte, entre outros aspectos, pelo seu tamanho. Esta é uma ideia errada. Há quadros pequenos dotados de um encanto que não se encontra em muitos grandes! Depois, e dando ouvidos aos especialistas, é muito mais fácil pintar um quadro grande do que um pequeno! É difícil colocar em ponto pequeno o que se consegue facilmente realizar num tamanho superior. Há pouco tempo, tive oportunidade de verificar isso mesmo. Tive a oportunidade de admirar um quadro pequeno cuja pintura se exprimia em pequenas e elegantes formas geométricas, que respeitavam a forma de peixes. Observei também outro onde, as formas mal definidas de conjugavam, em perfeita harmonia, com outras geométricas. Eram de um encanto extraordinário! Percebendo que a maior fatia do público não dava grande valor aos quadros pequenos, caí no erro de sugerir ao pintor que realizasse outros em ponto grande. Eu tinha razão, mão deveria era ter feito tal sugestão! Calei-me envergonhada. Ele não estava errado ao preferir quadros pequenos aos grandes! O que se tem, pelo contrário, de fazer, de é de insistir neles para ajudar as pessoas a perceberem que o valor entre uma quadro grande e pequeno é igual. Falamos do aspecto pictórico, é claro. Temos de deixar de ter, perante a arte, uma ideia materialista. A arte vale pelo que é e não pelo tamanho que tem! Há que mudar a mentalidade das pessoas mas, como tudo nesta vida, leva o seu tempo! Às vezes, demasiado! No caso dos livros passa-se o mesmo. Um romance para ser digno desse nome tem de ser, forçosamente, volumoso. Qualquer livro tem de ser volumoso para ter valor! Do que se esquecem as pessoas é que, para encontrar nele encanto, não é preciso quantidade, é necessária a qualidade também. E encontramos pequenos romances, contos, novelas, etc. que têm um encanto que não encontramos em muitos enredos volumosos! O que se tem de fazer é de manusear a obra e perceber até que ponto a linguagem nos seduz. Há que ir às livrarias/galerias e mais do que procurar títulos/pintores, há que abrir/ver obras conhecidas ou desconhecidas e perceber até que ponto elas nos seduzem a ponto de as querermos comprar ou se têm o efeito oposto não nos dizendo absolutamente nada, podendo criar em nós um sentimento de rejeição. O que é bom para mim, não é necessariamente para outro. Já aconteceu seguir a opinião de outras pessoas e acontecer a obra não me dizer nada, não conseguindo avançar além dos primeiros capítulos. Quando lá chego! Depois, há também uma aprendizagem a ter em consideração, e o que agora não me agrada não quer dizer que, daqui a pouco tempo, não me agrade. Como tudo, e como seres humanos que somos, estamos em constante aprendizagem. E esta quer dizer, muitas vezes, evolução, quando é feita no bom sentido.
Fátima Nascimento
Há aspectos da vida em que os dois nem se tocam. A sociedade agita as bandeiras do ideal de vida que nada tem a ver com a realidade. Depois, quando algo acontece mostrando isso mesmo, que os ideais são abandonados porque não se criaram infra-estruturas capazes de apoiar a vida das pessoas para que as suas vidas decorram sem sobressaltos. O que acontece quando algo corre mal? A tendência é a de apontar o dedo às pessoas confrontadas, muitas vezes, com problemas ou terríveis tragédias nas suas vidas. Geralmente, quem julga e condena os outros, encontra-se rodeado de um exército de auxiliares que apoia as diversas facetas das suas vidas. Agora, e os outros que, sem qualquer ajuda, se vêem a braços, para além do trabalho e, muitas vezes, dos problemas daí subsequentes, têm ao seu cuidado crianças e idosos que, à falta de autonomia, se encontram dependentes dos outros. Alguns deles com problemas de saúde física e psicologicamente graves. Não é fácil. Estes problemas trazem agravantes, se pensarmos na falta de dinheiro e do tempo, uma vez que as faltas ao trabalho são cada vez mais difíceis, ainda que justificáveis, o medo de perder a única fonte de rendimento… nada facilita a vida das pessoas. Depois, onde deixam as crianças e os idosos quando vão trabalhar? Vivendo numa sociedade materialista onde o trabalho é visto como uma fonte de rendimento, na primeira e na última fase das nossas vidas, encontramo-nos desprotegidos. Se não quiserem modificar nada a nível do emprego, então há que criar ou incentivar a criação de centros capazes de apoiar as famílias que têm a seu cargo idosos e crianças, para que estejam protegidos, durante a ausência dos adultos jovens. Para já não falar da falta de atenção a que estão sujeitos todos aqueles que não produzem (para não falar do trabalho infantil) ou deixaram, em determinado momento das duas vidas, de produzir, que se resignam a uma vida de prateleira, esperando as migalhas da atenção e dividindo-as com outros mais pequenos. Não é fácil uma situação destas para ninguém. A solução do lar é a mais fácil mas também a mais dispendiosa. Os infantários, quando existem, são poucos e limitativos ou privados e caros… Há que multiplicar as soluções. Só quando estas existirem e estiverem ao alcance de todos é que se pode apontar o dedo seja a quem for. Até lá, criem primeiro as condições. Ou, então, as pessoas que criticam que ajudem…
Fátima Nascimento
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