Caros leitores,
é com prazer que anuncio a publicação do meu segundo livro, intitulado “O Espelho da Vida”, que vai ser lançado, no próximo dia 02 de Dezembro, pelas 18 horas, na Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Fátima, no Entroncamento. A singela cerimónia está aberta a todos os interessados.
Abraço,
Fátima Nascimento
Sempre me lembro deste país estar
Já foi tornado público o resultado da investigação, levada a cabo, ao que parece, por quatro engenheiros. Esta investigação resultou do descarrilamento de uma automotora, ao serviço do metro de Mirandela, do qual resultaram três mortos e dois feridos. O resultado revelou alguns problemas na linha, assim como na automotora que descarrilou. Deste relatório, constam, ao que parece, fotos que sublinham as conclusões tiradas da investigação que nós acreditamos ter sido séria e realizada por pessoas cientificamente preparadas para o efeito. Como se costuma dizer, uma imagem vale por mil palavras, uma vez que, e caso não tenham sido manipuladas por pessoas de má vontade, elas mostram factos que desacreditam, à partida, qualquer argumento. Esta manhã, e após o resultado da investigação ter sido tornada pública, veio um determinado senhor, em declarações a uma estação de rádio, com algum peso no que respeita a audiências, dizer que o estado da linha não é tão mau como revelam as imagens. Uma pessoa fica atordoada com estas declarações, sem saber exactamente em quem acreditar. Uns revelam conclusões de uma investigação que me merece um mínimo de credibilidade, pelas razões óbvias, depois, vem um senhor, e apesar da gravidade de que se revestiu o acidente, pelo número de mortos e de feridos, e que poderia ter sido maior, se a automotora levasse mais passageiros, dizer que, e apesar de tudo, a linha não se encontrava num estado tão lastimável como revelavam as fotos. Como se as fotos fossem o único problema! A ser verdade, e pela paisagem acidentada que caracteriza a zona da linha, é natural que se tenham registado dificuldades na captação dessas mesmas imagens, mas o que é uma realidade é que essa linha necessita de obras e, dada, mais uma vez, a paisagem onde está inserida, deve necessitar de inspecções periódicas cuidadas e obras regulares frequentes, para evitar que factores climáticos, ou fenómenos geológicos (como sismos de fraca ou muito fraca intensidade), ou de outra natureza, possam pôr em risco mais vidas, não só dos trabalhadores como dos próprios passageiros. O que se tem de fazer, e é urgente, é evitar declarações destas, e falar às pessoas com seriedade, explicando-lhes o que aconteceu, e o que se vai fazer, para evitar mais acidentes deste género. São declarações destas que desacreditam não só as pessoas como as próprias empresas. Dá a sensação que a pessoa em questão ou não estava bem a par de tudo quanto envolveu o descarrilamento e a investigação, e alguém lhe lançou uma dica…ou então que fazem estas declarações para evitar mais especulações à volta do problema e assim tentar abafar o mesmo, o mais rapidamente possível… Não são só as imagens que estão em causa, (como parecia na declaração emitida, já para não falar no tom de voz) é todo um relatório que tem de ser levado em conta, assim como as sugestões que são claras, se queremos ter menos problemas no futuro. E para que as pessoas não tenham medo de viajar neste país… é que depois do acidente com a ponte de Entre-os –Rios e este da linha do Tua (para já não falar de outros), é difícil não ter medo…
Para os adultos é complicado, sempre foi. Estar doente implica faltar ao trabalho e isso, pelo menos nos tempos que vão correndo, tornou-se quase um crime. Tudo quanto envolva a criação de riqueza é encarada como prioridade na sociedade actual. Se calhar, e se pensarmos bem, sempre foi assim. Só que agora, e depois de se terem conquistado alguns direitos, parece que forças contrárias tendem a escolher paradigmas ultrapassados. O trabalho cria riqueza, é verdade, mas esta não é tudo. Não é sobrecarregando as pessoas com horas de trabalho, ou evitando que faltem ao trabalho, que se vai conseguir uma sociedade feliz. Uma sociedade que não é feliz é uma sociedade instável, ainda que, aparentemente, mostre o contrário. As democracias precisam de pessoas responsáveis, inteligentes e sérias à frente de um país, sob pena de que tudo descarrile. Estamos a chegar a um limite, e todos já sentiram isso. É que as realidades, mais do que pensadas, são sentidas. A inteligência não é algo que se espartilhe numa pessoa. Nada mata a inteligência, nem ninguém fica indiferente ao que se passa num país. Portanto, não é aumentando a carga horária de um trabalhador que este fica mais estúpido, quando nunca o foi. Os próprios empresários reconhecem que o aumento da carga horária não beneficia ninguém. O equilíbrio beneficia todos. Enquanto os pais trabalham, os filhos, quando não têm ninguém para tomar conta deles, ficam ao cuidado das escolas que aumentaram as cargas horárias. Os alunos não têm tempo para dedicarem a si próprios, o que não os beneficia também. Chegam a casa cansados e lançam as pastas para o chão, sem vontade de lhes tocar. Não os culpo. Eu não sei dar o valor, porque tive sempre tempo para tudo. Tinha uma carga horária que me permitia estudar e brincar. Agora, os alunos, para além da escola, pouco mais tempo têm. Ultimamente, até o direito a estarem doentes lhes parece ter sido retirado. A minha filha mais velha está no nono ano. Esteve doente da garganta, tomou antibiótico e voltou para a escola. Não podem dar mais do que x faltas, sob pena de terem de fazer um exame no final do ano. Eu fiz-lhe ver que a saúde vinha sempre primeiro. Não quis saber, o espectro do exame falou mais alto. O resultado foi péssimo. O tempo veio dar-me razão. Passados dias, ela piorou. Agora, vê-se obrigada a ficar mais tempo em casa, aquele tempo que não teve antes. Os estudantes estão revoltados e têm as suas razões. Acho que não é atirando ovos à ministra que se resolvem problemas, mas o acto em si revela algum desespero. Sentem-se espartilhados, sem espaço de manobra. E ainda não experimentaram no mundo do trabalho… Mas pode ser que, até lá, alguém com imaginação, para além da formação, e com algum bom senso, já tenha encontrado uma solução para o problema das faltas por motivos de saúde. Eu sempre enfrentei essas faltas com a coragem necessária: faltava quando tinha de faltar. Não estava a enganar ninguém. O direito à doença é algo que não pode ser contornado.
Um dia destes fiquei sem carro. Teve de ir à oficina preparar-se para mais uma inspecção. Levei-o perto da hora do almoço e, como aquela estivesse cheia de carros, tive de o deixar lá, durante toda a tarde. O dono da oficina, que vinha almoçar a casa, deu-nos boleia, a mim e a outra senhora, cujo carro também teve de lá ficar. Pedi que me deixasse perto da escola, onde anda a minha filha mais nova. Um vento frio e violento corria pelas ruas desprotegidas. Fiz o resto do percurso a pé, aconchegando-me no casaco fino. Como ainda faltavam alguns minutos, refugiei-me no café que abrira recentemente e cuja dona é mãe de uma das pequenitas da sala da minha filha. Estivemos à conversa até à hora do toque. Dirigimo-nos ao portão, temendo pela falta de agasalho que muitas vezes os caracteriza, até nos dias frios. A minha filha vinha de mochila às costas e casaco na mão. Insisti para que vestisse o casaco. Deu-me a mão, naquele gesto infantil, à qual já me havia desabituado com os irmãos. Tomámos o caminho de casa da avó. Íamos lá almoçar. Durante o trajecto, fez-me queixas. Já há algum tempo que me vinha fazendo queixas de um menino que bate a todos menos a um. Estava a pedir-me conselhos indirectamente. Fui-lhe dando alguns, à medida que caminhávamos. E se ela conversasse com ele? Se lhe dissesse que queria ser amiga dele, mas que não podia porque ele teimava em bater-lhe sempre que estava junto dela e lhe mostrasse que o mesmo acontecia aos outros meninos? “Não!”-respondeu, horrorizada. “Assim, ele bate-me!” Perguntei-lhe se já se interrogara porque é que ele não batia no outro menino. Ela acenou negativamente. Não seria porque ele era o único que não mostrava medo dele? Ficou pensativa. Percorremos o resto do caminho
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