O povo português já percebeu que, num estado de direito, pode castigar esse mesmo estado, quando este não cumpre com os seus deveres. Foi o que aconteceu recentemente aquando da morte de um paciente, já aconteceu outras vezes, e poderá continuar a acontecer… e, quando recebem o dinheiro, as pessoas sentem-se menos injustiçadas perante situações difíceis, (muitas destas irremediáveis!), com que se viram confrontadas em determinado momento das suas vidas. A solução geralmente encontrada é o pedido de indemnizações ao estado. Não discuto. Mas esta solução dá que pensar. O estado tem dinheiro, pelo que pode pagar essas indemnizações. Mas já pensaram de onde vem esse dinheiro utilizado para pagar aos lesados? Não será dos impostos que nós pagamos ao estado e que tão significativo é no corte que representam no salário do final de cada mês? Eu refiro-me sobretudo aos portugueses que trabalham por conta de outrem e que não têm hipótese alguma de fugir ao fisco. Não serão estes os verdadeiros lesados das indemnizações? Nós, por vezes, parecemos esquecer-nos desta realidade - somos nós que pagamos as indemnizações aos queixosos. Eu questiono-me se não haverá outra forma de o fazer… As políticas, nomeadamente a da saúde, que encontra uma maneira de poupar dinheiro encerrando, ao que parece um pouco descuidadamente, centros de saúde e hospitais, (ou alguns serviços destes!), por esse país fora, são feitas por homens que assinam documentos e outros que as aprovam, dando sinal verde para a sua execução. Não serão estes os verdadeiros responsáveis por essas perdas irreparáveis nas vidas das pessoas? Então, não será a esses que, depois de apuradas as responsabilidades, se devem pedir as indemnizações e não ao estado? Não é assim que sucede sempre que temos razão de queixa de alguém? Aquela médica, acusada de negligência, não está a ser julgada e a enfermeira, também acusada, não foi reformada compulsivamente? Não sofremos, todos nós, na pele, as consequências dos nossos actos? Então porque há-de ser diferente para aqueles que trabalham no estado, em esferas de grandes responsabilidades? Se assim acontecer, tenho a certeza que as pessoas envolvidas em projectos de natureza política, sejam eles quais forem, vão ter mais cuidado com as soluções apresentadas e com as decisões a tomar… vão, pelo menos, pesar mais as consequências dessas decisões políticas que tanto atrapalham a vida do cidadão comum. Sim, porque muitos destes encerramentos, dá-me a sensação de serem feitos por pessoas debruçadas sobre o mapa do nosso país, guiando-se pela distância no mapa, sem terem a noção real do espaço e do incómodo e perda de tempo que representa para o cidadão comum as deslocações para outras unidades hospitalares… em que planeta vivem essas pessoas, nossas conterrâneas, que fazem estes projectos e as que tomam tais decisões? Não deve ser no planeta Portugal, com certeza! Pelo menos, não é de certeza, o mesmo em que nós, os que sofremos na pele tais decisões, vivemos.
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