opiniões sobre tudo e sobre nada...
Domingo, 26 de Novembro de 2006
O País do desânimo

É do conhecimento de todos a classificação que nos é atribuída de "povo de brandos costumes". De facto, não nos insurgimos contra nada nem ninguém, e, aparentemente, tudo parece estar bem e todos parecemos estar de acordo com as decisões do governo. A resignação parece ser o prato forte deste povo, aparentemente indiferente a todas as decisões políticas que lhe possam transtornar a vida. (Eu digo "aparentemente" porque o que me diz a experiência é que o povo português aprendeu a governar-se a si próprio - pelo menos alguns - e, debaixo daquela capa de aparência, reina a anarquia do "salve-se quem puder" que lesa não só o próximo como também o próprio estado.) Se reflectirmos um pouco, não conhecemos nenhum governo que tenha tomado alguma decisão política, em tempo de crise (ou não), capaz de aliviar o povo, (porque os sacrifícios são feitos por uns portugueses não por todos!). A resignação é consequência directa da certeza que, qualquer que seja a cor política instalada nas cadeiras do governo, a política é sempre a mesma: desfavorável aos pobres e favorável aos mais ricos. E ainda há pessoas que se dão ao luxo de justificar as acções do governo, com conversas que já não convencem ninguém. O povo português é um dos mais trabalhadores do mundo mas não tem incentivos nenhuns para trabalhar num país onde a palavra sacrifício se aplica àqueles que saem cedo para trabalhar e só chegam à noite, em troca de salários insuficientes para fazer face ao custo de vida (isto já para não falar na ameaça do desemprego!). Aqui, em Portugal, temos os únicos governantes que pensam que o povo vive do ar, e que só os amigos deles, colocados em lugares escolhidos a dedo e com salários que não reflectem em nada a crise que atravessamos, têm necessidades a preencher. Quando há pessoas nossas conhecidas que dizem que fariam igual ou pior se estivessem no lugar deles, dá a sensação que, por muito que as situações mudem, os valores serão sempre os mesmos e, deste modo, também as políticas. O povo sabe disto melhor do que ninguém e o desânimo grassa neste país. Só o primeiro-ministro (funcionário público ele também, tem motivos para se alegrar: todas as decisões por ele tomadas e pela sua equipa, também esta constituída por membros todos eles funcionários públicos), são acatadas com uma aparente resignação. Mas, contrariamente àquilo que vem sendo dito até aqui, há cada vez mais vozes que se levantam em protesto, mostrando o seu desagrado por medidas que têm sido aplicadas por este governo e seus apoiantes. A única diferença é que as informações que passam de mão em mão, umas estão assinadas e outras não. Não é difícil de perceber a razão. O medo instalou-se... as informações mais graves capazes de pôr em polvorosa toda a classe política, essas são anónimas, as outras, artigos de opinião, crónicas... essas são assinadas.  Tenho lido as que me têm chegado às mãos, todas elas de pessoas com opiniões, senão iguais, então, no mínimo, parecidas com aquelas que eu defendo. Mas o poder é demasiado vaidoso e arrogante para dar ouvidos à razão: só eles é que sabem. As bases, aquelas que contactam, no dia-a-dia com a realidade, esses não sabem avaliar nada. Só o poder e a sua política de gabinete sabem o que é melhor para nós, ou melhor, não sabem uma vez que estamos tão mal governados por pessoas de horizontes estreitos e curtos. Assim, andamos a funcionar a anti-depressivos, temendo a próxima decisão errada que o governo irá tomar. Gostaria de retomar uma ideia já atrás evidenciada por mim: o povo português é um dos povos mais trabalhadores (e dos melhores!)... só não tem governantes à altura! Se houvesse alguém com capacidade e imaginação para resolver os problemas do país, e se fosse honesto e justo e não tivesse a sua roda de parasitas clientalistas que levam este país à ruína com os seus salários e reformas brutais,... arrancá-lo-iam de lá! Por isso, não sei se este país alguma vez o terá... vejamos o que aconteceu no passado e no presente. Se há alguém íntegro e com formação para ver que algo não está a correr bem dentro de uma empresa pública, por exemplo, as chamadas derrapagens financeiras, (cuja responsabilidade fica sempre por apurar) e se essa pessoa tem a coragem de a denunciar, a solução é sempre a mesma: procura-se algo no passado dessa pessoa que a possa desacreditar aos olhos do público e... já está!  ( A moral dos políticos parece ser "vergonha é roubar e ser apanhado!" Tem-se a sensação que os casos conhecidos, só o são devido à traição dentro da classe, traição daqueles que não estão satisfeitos com as contrapartidas).  Então, arranja-se uma explicação muito bem elaborada sobre a interpretação errada feita acerca daquela situação... o povo, que não é parvo, só sabe que não tem outro remédio senão aceitar (não acreditar!), aceita as explicações que logo esquece, encolhe os ombros e passa a outro tema...  mas a situação denunciada fica guardada na memória e, quando algo semelhante acontece, salta logo à conversa  aquele "Foi o que aconteceu aqui há..."  Não é que o povo concorde com o que se passa, ele não sabe é o que há-de fazer acerca desse assunto, e se é ele que há-de tomar alguma iniciativa e o que é que ele deve fazer exactamente... os meios normais, levam muito tempo e parecem revelar-se incapazes... como dizia Camões, o nosso querido Camões, só para ele a justiça funcionava... também com o povo português assim acontece... Gostaria também de acrescentar que não é através da repressão que se deve governar mas sim do estímulo... o primeiro, leva o povo ao desânimo, o segundo, leva-o a ter orgulho em ser melhor... só um espírito estreito insiste em perseguições, seja de que tipo forem... depois, só quem tem medo é que se serve da repressão para obter os resultados pretendidos... e só também quem não tem ideias para resolver situações se serve dela... e o desânimo aumenta como uma bola de neve... Eu, se pudesse, emigraria... estou farta destes governantes!



publicado por fatimanascimento às 18:28
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