Troco correspondência regular com amigos brasileiros, leio autores brasileiros, tive alunos e colegas brasileiros e nunca senti a necessidade de fazer fosse o que fosse em relação à língua que partilhamos, nem mesmo no que respeita à ortografia. Esta nunca foi impedimento para a compreensão do conteúdo da mensagem, pelo que nunca tive necessidade de impor nada a ninguém ou vice-versa. De lá, também nunca me apercebi de nenhuma dificuldade na compreensão dos meus textos, e devo já esclarecer que falamos através do msn, que está muito em voga agora. O que dificulta, por vezes, a compreensão dos textos é algum vocabulário brasileiro, com o qual nós estamos menos familiarizados, mas até isso é enriquecedor.
Um dia, uma aluna nova, de nacionalidade brasileira, veio ter comigo muito preocupada com a ortografia, pois sabia que havia disparidade entre o português do Brasil e o de Portugal. Punha-se a questão do que lhe haveria de exigir. Acordámos que a minha aluna escrevia em português com a ortografia brasileira (que aprendera durante os sete anos prévios) e eu respeitava, desde que estivesse correcta. Ajudava-a em muitos aspectos, mas nunca toquei na ortografia ou lhe disse que não era assim que se escrevia, pois seria eu que estaria errada. Jamais procurei impor a ortografia portuguesa à moça, respeitando sempre a forma e o trabalho de colegas brasileiros que, anos antes, se esmeraram a ensiná-la a escrever correctamente, isto é, de acordo com as normas ortográficas brasileiras. Foi muito enriquecedor, mesmo nestas idades, tanto para ela como para os colegas, saberem que a língua pode ter disparidades na sua evolução, só temos que as aceitar, como algo adquirido e respeitá-las. Muitas vezes, ao escrever no quadro, a aluna intervinha dizendo “Que engraçado, no Brasil, nós escrevemos… Eu já me tinha perguntado como seria escrita essa palavra, aqui, em Portugal”. Balanço do convívio das duas línguas? Muito positivo e enriquecedor, para ambas as culturas.
Um ano, tive uma colega brasileira, também ela professora da disciplina de Língua Portuguesa, e ela contou-me da dificuldade que encontrara em se afirmar aqui em Portugal, por ser brasileira e por ser professora da língua. Chegara mesmo a desenhar-se aquilo que poderia se ter tornado numa verdadeira perseguição, por parte de alguns colegas. Só por causa da língua… Que engraçado, onde alguns vêem riqueza, outros vêem ameaças. Os alunos aprenderam as diferenças ortográficas facilmente; ora, porque é que nós, adultos, complicamos sempre tudo?
Sempre fui apologista da liberdade, mesmo a da língua, reservando-lhe o direito de seguir o seu caminho sem confusões.
Fátima Nascimento
Projecto Alexandra Solnado
links humanitários
Pela Libertação do Povo Sarauí
Músicos
artesanato
OS MEUS BLOGS
follow the leaves that fall from the trees...
Blogs
O blog da Inês
Poetas