opiniões sobre tudo e sobre nada...
Segunda-feira, 7 de Dezembro de 2015
“Vai abrir a porta, filha da mãe!”

Há violência de toda a espécie. Entre alunos na escola (o mais conhecido), entre casais, entre vizinhos, entre pais e filhos, entre avós e netos… O mito criado que defende que o elo mais forte é o que existe entre pais e filhos não é regra ou é uma com muitas excepções…

Vou falar daquela que é menos conhecida. A existente entre pais e filhos. Há muitos anos tinha lido “Um rapaz chamado coisa” que me chocou imenso. O que nunca me passou pela cabeça foi rever-me naquela vítima! Depois disso, lá percebi a causa: o meu pai que sempre balançou, na medida do possível, as situações (embora nem sempre tenha conseguido!). Também outras histórias me chegaram aos ouvidos e contadas pelas próprias vítimas.

Não é fácil falar deste assunto. Mas é importante que as pessoas se reconheçam nalguns destes papéis ou que conheçam casos destes saibam que devem intervir de alguma forma para melhorar ou terminar com a violência. A solução que me ocorre é a do acompanhamento psicológico. Poderá haver outras e decerto que as haverá…

A frase que serve de título a este artigo, foi retirada do meu dia-a-dia em casa da minha mãe e não há muito tempo que foi proferida com um tom de ódio infernal. Não há outra forma de a explicar. O problema é que não foi dirigida a mim mas à minha filha mais nova. Sim, já vai na segunda geração. O que mais me dói é que não se ficam por mim os insultos mas alargam-se às minhas filhas.

Vamos passar em revista um pouco a vida da agressora. O pai, a quem estava muito ligada, morreu novo. Mãe agressora que a vincou para a vida, chegou a uma bonita idade avançada. Esta foi uma madrasta para a minha mãe na infância (daquelas bruxas da Disney) e uma mãe para os outros. “Foi a primeira, logo levou com tudo em cima” explica uma senhora amiga que assistiu. Foi a melhor explicação encontrada por ela perante o choque das imagens. Na altura, embora fosse difícil de assistir ninguém se atrevia a dizer fosse o que fosse.

Resultado: a vítima passou a agressora mas com uma particularidade – só se veicula para a sua própria família e o ódio agudiza-se mais quando dirigido a mulheres. Eu explico: tenho três filhos, um rapaz e duas raparigas. Ela tem um fraco pelo neto o que torna a vida do rapaz mais fácil e horrenda a das miúdas. A frase com que abro este artigo, foi dirigida à minha filha mais nova enquanto esta brincava com o irmão que sempre foi muito arreliador.

O meu pai teve uma família emocionalmente equilibrada e sempre foi respeitado e sempre se sentiu amado pelos pais assim como o irmão. Foi um pai protector que sempre me apoiou apesar do veneno da minha mãe.

E eu? Eu tive a sorte de ser diferente e de quebrar o padrão. Tive um pai que sempre foi o meu maior amigo longe da vista da minha mãe, claro. Tive vizinhos que não eram as melhores pessoas (lembro-me de duas famílias) mas eram uns pais incríveis. Serviram-me de exemplo. Também odos os filmes americanos vistos desde os tempos mais recuados do cinema até aos mais recentes. Ainda assim não sou perfeita. Estou muito longe disso. Mas posso dizer que tenho uns filhos extraordinários e não é só graças à minha educação mas às pessoas que são. Estão rodeados de violência tanto pela parte da família do pai (este sobretudo e a mãe deste) mas ainda assim conservam-se adolescentes estáveis e felizes, (apesar da minha mãe envenenar o meu filho mais velho. Não é a primeira vez que a apanho!) Tenho de agir de forma a superar toda esta negatividade, o que se torna cansativo embora indispensável!

Mas é a mais nova que se tornou o alvo preferencial do ódio da avó. Eu sinto-me a reviver a minha infância e adolescência. A ideia de educação da minha mãe é a de querer “dobrar” as pessoas àquilo que ela julga ser o “ideal” esquecendo-se de que isso não existe. E é uma péssima educadora porque não sabe falar sem o seu indispensável ódio e os insultos que, invariavelmente, o acompanham. Não se educa retirando o amor-próprio às pessoas. É a forma mais fácil mas também a mais errada. Aos filhos há que amá-los pois são os nossos melhores amigos. E mesmo que não sejam… Há que dar-lhes o melhor de nós para que sejam ainda melhores do que nós enquanto indivíduos. Acho mesmo que pouco ou nada lhes temos para ensinar, pois é como se tivessem dentro deles “algo” que misteriosamente os guia…

Mas nem sempre foi fácil para mim, a educação que nos retira o amor-próprio leva-nos a cair no erro de encontrar nas nossas vidas pessoas que são tão abusadoras como as pessoas que nos criaram. Maridos, amantes, namorados… É necessário quebrar este elo de violência para que as gerações futuras possam ser mais felizes e para que se acabe este paradigma estúpido de agressor-agredido mas, sobretudo, que as vítimas tenham a noção que o mundo, embora não pareça, é mais do que a violência: é amor, é carinho, é felicidade!

Eu encontrei a minha depois do meu divórcio embora esteja sujeita a recordar todos os maus momentos já vividos na convivência com a minha mãe. Porque estou em casa dela? O desemprego assim o ditou…

Isto lembrou-me uma situação passada há muitos anos. Ela repetia com alguma frequência e com alguma altivez que eu ainda iria precisar muito dela. Ao que respondia que tinha pena que assim fosse porque o meu mal era também o seu”. Veja-se o resultado…



publicado por fatimanascimento às 18:26
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