A nossa vida parece resumida a estatísticas. Há-as para tudo. É um pouco como se o a vida no mundo social se resumisse a isso. Então a comunicação social parece não falar de outra coisa de vez em quando, sobretudo quando os assuntos são balanços, sejam eles de que naturezas forem. A reacção das pessoas, que ouvem estas afirmações, é de reserva e alguma surpresa (às vezes, o mesmo acontece comigo) embora algumas, creio eu, sem pensar, admitam em voz alta que “Ainda dizem que não há dinheiro!” Parece que as estatísticas estão a distorcer um pouco a realidade. Se, por um lado, falamos de desemprego e pobreza, por outro as estatísticas parecem mostrar uma sociedade secretamente rica. E talvez seja essa a interpretação correcta. A olharmos para as declarações entregues nas finanças, somos todos pobres. Então de onde vêm essas estatísticas que mostram despesas assombrosas? É claro que o país não é rico. Aqueles que criam e/ou contribuem para a riqueza do país são poucos para sustentarem uma máquina estatal enorme e, por ironia, são os que ganham menos (tirando os cargos de direcção). Depois, grande parte das firmas privadas faliu. Como se compreendem então certas estatísticas? Como se compreendem as deste ano referentes à época natalícia? É claro que as explicações poderão ser muitas. Eu presenciei uma que talvez ajude a explicar grande parte do que se passa neste país. Enquanto, nas grandes superfícies viam os carrinhos relativamente vazios, sujeitando-se ao essencial, outros enchiam-se de brinquedos e outras prendas compradas para a época. Se se compra mais, não se pode falar da generalidade dos portugueses, mas somente de alguns. Não tenhamos ilusões. Esta crise, assim como tantas outras pelas quais já passámos, não afectam todas as pessoas por igual. Os que ganham muito continuam na mesma, nada muda para eles. Assim o que uns não podem comprar, outros compram em quantidades suficientes pelos outros. O mesmo se aplica às viagens exóticas tão badaladas no final de cada ano civil. Alguém consegue perceber que um desempregado escolha um local exótico ou outros para passar essa noite? Cá para mim, as estatísticas não reproduzem a realidade social total só a parcial. Por favor, não passem ideias erradas às pessoas! Elas também sabem pensar! Enfim, algumas…
Há aspectos da vida em que os dois nem se tocam. A sociedade agita as bandeiras do ideal de vida que nada tem a ver com a realidade. Depois, quando algo acontece mostrando isso mesmo, que os ideais são abandonados porque não se criaram infra-estruturas capazes de apoiar a vida das pessoas para que as suas vidas decorram sem sobressaltos. O que acontece quando algo corre mal? A tendência é a de apontar o dedo às pessoas confrontadas, muitas vezes, com problemas ou terríveis tragédias nas suas vidas. Geralmente, quem julga e condena os outros, encontra-se rodeado de um exército de auxiliares que apoia as diversas facetas das suas vidas. Agora, e os outros que, sem qualquer ajuda, se vêem a braços, para além do trabalho e, muitas vezes, dos problemas daí subsequentes, têm ao seu cuidado crianças e idosos que, à falta de autonomia, se encontram dependentes dos outros. Alguns deles com problemas de saúde física e psicologicamente graves. Não é fácil. Estes problemas trazem agravantes, se pensarmos na falta de dinheiro e do tempo, uma vez que as faltas ao trabalho são cada vez mais difíceis, ainda que justificáveis, o medo de perder a única fonte de rendimento… nada facilita a vida das pessoas. Depois, onde deixam as crianças e os idosos quando vão trabalhar? Vivendo numa sociedade materialista onde o trabalho é visto como uma fonte de rendimento, na primeira e na última fase das nossas vidas, encontramo-nos desprotegidos. Se não quiserem modificar nada a nível do emprego, então há que criar ou incentivar a criação de centros capazes de apoiar as famílias que têm a seu cargo idosos e crianças, para que estejam protegidos, durante a ausência dos adultos jovens. Para já não falar da falta de atenção a que estão sujeitos todos aqueles que não produzem (para não falar do trabalho infantil) ou deixaram, em determinado momento das duas vidas, de produzir, que se resignam a uma vida de prateleira, esperando as migalhas da atenção e dividindo-as com outros mais pequenos. Não é fácil uma situação destas para ninguém. A solução do lar é a mais fácil mas também a mais dispendiosa. Os infantários, quando existem, são poucos e limitativos ou privados e caros… Há que multiplicar as soluções. Só quando estas existirem e estiverem ao alcance de todos é que se pode apontar o dedo seja a quem for. Até lá, criem primeiro as condições. Ou, então, as pessoas que criticam que ajudem…
Fátima Nascimento
A verdade existe? O que é a verdade? Existirá mesmo ou o que existe são simplesmente versões de um acontecimento? Existe muita confusão à volta deste tema…
A verdade existe. Ela está diante dos olhos de quem a vê. Sempre foi, é e será assim. Agora, existem muitas versões da verdade tantos quantos os mentirosos. Isto leva-nos a outra questão. O que é a mentira? Para mim, a mentira é a distorção da verdade nos seus vários graus. Sim, porque há aqueles que vão da distorção mais leve à mais acentuada. Até à invenção de uma estória que nada tem a ver com a realidade daquilo que aconteceu. A verdade é como a democracia ou a liberdade tão delicada que, ao mais leve deslize, se quebra. As pessoas querem fazer crer que a verdade não existe só as versões da mesma, não se dando conta do que essa afirmação representa. Ou, então, sabem e estão satisfeitas e alinham nisso. Na minha opinião a verdade existe, repito. Ela está diante dos nossos olhos e a mente e o coração reconhecem-na. Agora, tudo depende, e mais uma vez, para não dizer sempre, da natureza das pessoas que a vivem. Há aquelas pessoas que não têm medo da verdade, pelos mais variadíssimos motivos, e há aquelas que nada querem com ela, revestindo as suas vidas de mentiras agradáveis mas que nada têm a ver com a realidade, para poderem dormir descansadas. Algumas há que chegam a ser tão convincentes que acabam por convencer os outros da veracidade da sua versão. Estes são os mentirosos. Não conseguem viver sem distorcerem, de alguma forma, a verdade. E quando só o fazem ligeiramente acham já que são umas grandes pessoas. São aquelas cuja vida está tão marcada pela mentira, que já não sabem distinguir o que é verdade do que é mentira; nem querem! Agora, o perigo, para esse tipo de pessoas, reside naquelas que não alinham nas suas mentiras. São incómodas! Podem beliscar a pintura com que retocam cuidadosamente as suas máscaras cada dia. A máscara que mostra valores que, na realidade, não possuem. Aquela é tão cara para elas que estão dispostas a tudo para a manterem intacta. E valem todas as mentiras do mundo para a salvarem, porque sem ela estão perdidas aos olhos das pessoas que são diferentes delas e também daquelas que são iguais a elas, mas mais cuidadosas. Sim, a verdade existe e toda a gente sabe disso, embora não admitam, nem queiram admitir essa realidade. Já encontrei, na minha vida, progenitoras que fazem alinhar os filhos nos esquemas delas e, depois, quando chega o momento de eles se encontrarem com as suas consciências, arranjam, sempre meigamente, as mentiras mais incríveis para lhes aliviar o peso dos actos inglórios cometidos para que foram arrastados. E pensar que há pessoas que estão internadas e rotuladas de loucas…
O Natal é um período mágico. Nele se diluem todos os medos, todas as preocupações, todas as raivas, todos os ódios… Vive-se um clima de harmonia excepcional exclusiva desta época. A pessoa concentra-se exclusivamente nas festas que se avizinham, na comida, nas prendas, na família… mas há um sentimento morno no ar, que nada tem a ver com a coluna quente de fumo que se desprende da boca do assador das últimas castanhas da época. Os traços faciais estão mais diluídos e o rosto parece emitir uma luz que vem da alma. Há uma inevitável esperança que preenche os espíritos das pessoas com que nos cruzamos na rua. Mesmo vivendo momentos difíceis, que ameaçam prolongar-se por uns bons longos anos, as pessoas necessitam de viver este momento, que lhes dará o ânimo que irá sendo carcomido pelos bichos da incerteza e da instabilidade, ao longo do ano que se aproxima. Esse estado de espírito começa a desvanecer-se logo a seguir ao dia de Natal. As notícias, que preenchem os ecrãs, anunciam um ano problemático cheio de aumentos e desemprego, enfim… anunciam aquilo que todos já sabemos mas nos recusamos a encarar, porque não queremos perder esse estado de graça, com que somos agraciados nesta excepcional época – não existe abismo nenhum entre o novo ano e o precedente, mas uma simples continuação. As pessoas acordam do seu curto estado de graça, para enfrentarem novos e velhos problemas do país que não tem pessoas capazes de lidar com as situações criadas interna e externamente. As velhas soluções servem para tapar os velhos novos problemas existentes. Sim, porque dentro do sistema capitalista, os problemas repetem-se e, enquanto dermos mais importância ao dinheiro que às pessoas, menos soluções possíveis encontramos para ele. A dura realidade faz renascer os receios que ameaçam corroer o sentimento harmonioso que preenche as esfomeadas almas, desequilibrando-as e ameaçando-as novamente com o fosso do desânimo, para onde, invariavelmente, somos projectados, ano após ano. Sim, não se fecha nenhum ciclo (como gostamos de pensar) antes se continua o que estivemos durante um ano (e mais!) a percorrer. Somos, aliás, uma consequência dele.
Encontro-me ainda desempregada. Faz já um ano que desisti daquela escola, onde a única coisa boa eram os miúdos. Como me demiti de uma escola e não do ensino, vou concorrer agora às residuais, isto é, aos horários que não foram atribuídos nos concursos passados. A minha situação de desempregada manteve-se até aqui, à excepção de um curso com a duração de dois meses e meio, nada alterou a minha situação. O novo ano lectivo está aí e, com ele, a preocupação como os livros e o material escolar. No passado ano lectivo, os garotos, e face à minha nova situação de desempregada, obtiveram, muito justamente, o escalão A. Este ano, e devido à nova forma de cálculo, os miúdos ficaram no escalão 3, pelo que têm direito ao computador portátil, e só. Fiquei atónita, uma vez que a nossa situação em nada mudara. Fui à Segurança Social tentar perceber o que acontecera e foi-me explicado que o cálculo do abono se baseara nos rendimentos de 2006. Fiquei chocada! Estes cálculos andam, pelo menos com um ano de atraso. E as famílias cuja vida se modificou de um momento para o outro, como foi o meu caso? Não valia a pena recorrer, uma vez que o decreto-lei era bastante claro. Quem redigiu tal decreto-lei que não está de acordo em nada com a realidade social que se vive neste país? Só pode ser alguém que nunca viveu dificuldades, disso estou certa. Terei de esperar, se entretanto a minha situação não se alterar, pelo ano de 2009, para que o dito cálculo se baseie no IRS de 2007… Voltei à escola, onde já entregara o papel que havia recebido da Segurança Social, com o respectivo escalão atribuído, e que está relacionado com o valor do abono. Expliquei-lhes o que me haviam dito. As pessoas ficaram boquiabertas. Têm imensos casos parecidos com o meu e não sabem ainda bem como hão-de resolvê-los. Ficaram de conversar com os meus ex-colegas do Conselho Executivo, para encontrarem uma estratégia capaz de colmatar o buraco criado pelo novo cálculo. Mas também aqui há um problema… o IRS de 2007, ano em que pedi a demissão, tem um valor que em nada corresponde ao actual, uma vez que trabalhei o ano lectivo todo (só pedi a demissão do dia 2 de Agosto desse ano) e, como tal, recebi o rendimento corresponde a esse período. Se tiverem em conta estes rendimentos desactualizados, também eles se vêem a braços com um problema incontornável, ao que parece… Como resolver então este problema? Não serve a declaração do Centro de Desemprego que eu já entreguei, atestando a minha inscrição naquele centro?
Depois, há algo muito curioso: os miúdos, neste escalão, têm direito ao computador portátil, mas não aos livros que são o mais importante? É ridículo perceber que vivemos num país completamente daltónico, onde os legisladores nada percebem da realidade do país. Ou terão copiado a ideia num outro país e colocado neste, sem a preocupação de fazerem os devidos ajustes? Cada vez acredito menos no Estado e no que ele representa… bem, não esqueçamos que o estado são as pessoas que lá trabalham…!
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