Não foi Caim que matou Abel? Não será esta história fratricida violenta? No assassínio não há violência? Não é a história da Bíblia uma história da humanidade? Não está a história da Humanidade repleta de cenas de violência? Lembram-se da passagem bíblica em que um Deus furioso e vingativo mata todas as crianças egípcias numa aparente retaliação àquilo que estes haviam feito com as crianças judias do sexo masculino? Para mim, esta cena violenta manifestava a faceta desconhecida de Deus. Que culpa tinham as humildes crianças egípcias de uma ordem tenebrosa dada por um cruel faraó despótico que nada mais tinha em mente que acabar com uma terrível profecia que ameaçava a sua autoridade com o possível nascimento de um líder entre os judeus que devolveria este povo à liberdade, levando-o até à Terra Prometida? Nesta história havia algo que me fazia confusão: como poderia Deus, que supostamente ama igualmente todas as criaturas, matar, com uma presumível doença misteriosa, crianças inocentes cuja única culpa era estarem vivos, não lhes dando possibilidade de fuga? Até Moisés pôde escapar graças à estratégia da irmã. Deu-me pena a imagem daquelas inocentes crianças a apagarem-se sem que seus pais pudessem fazer o que quer que fosse para os salvar. Achei injusta aquela guerra divina contra os desarmados seres humanos e com o já previsível desenlace. Houve claramente um desequilíbrio de forças. Que pode um simples ser humano contra Deus? Nada! Esta história deixa isso bem claro!
Um dia destes uma amiga minha, que parece ter nascido para sofrer e ser perseguida, lia os salmos em busca de ajuda naquelas preces, comentava desabafando comigo: “Algumas passagens são tão violentas! Eu não quero que nada de mal aconteça a quem me faz mal, só quero que me deixem em paz!” Respondi, por meu lado, que talvez essa linguagem enérgica se prestasse a isso mesmo – a levar os seus perseguidores a deixarem-na em paz! Mas isto, como é lógico, é só uma opinião. É a nossa opinião. Todos nós temos uma opinião/interpretação sobre qualquer assunto até mesmo da Bíblia. O que não se compreende é o alarido criado à volta do livro de José Saramago. Este limita-se a criar uma obra a partir da sua interpretação. Não é ele livre de o fazer? Não vejo Deus zangado com ele, vejo um conjunto de seres humanos indignados com ele, só porque teve o arrojo de reinterpretar aquela passagem bíblica na criação de uma obra literária. Não percebo a atitude da igreja, pelo menos de alguns dos seus membros que mais não fazem do que aumentar a propaganda à dita obra. São eles que a fazem! Não é Saramago que precisa dela! Se olharmos friamente a questão dos dois livros, percebemos que nenhum deles sai desvalorizado desta questiúncula inútil. Cada um vale por aquilo que representa. Nada mais. E, sempre que um ser humano ler a Bíblia, terá direito à sua interpretação. Deus deu-lhe liberdade para isso. Se assim é, quem é o outro homem para lha tirar?
Não é de agora. Não é a primeira vez. Sempre se ouviu falar de corrupção entre as pessoas que ocupam postos de trabalho de grande responsabilidade neste país. Não há novidade nenhuma nas notícias que vêm a público. Com o tempo, só as caras expostas vão mudando, sendo o resultado sempre o mesmo – nada. A polícia só apanha o peixe miúdo. A propósito, todos se lembram da captura do adolescente que, tal como tantos outros neste país, retirava músicas da net? Pois, capturas, se as esperam, só destas. Toda a gente percebeu que, a partir de uma certa esfera social, a justiça parece ser cega, surda e muda. Ninguém faz nada, mesmo conhecendo-os. (Ah, peço desculpa. Esqueci-me do senhor vale e Azevedo, que fugiu para Inglaterra, e que a justiça portuguesa se vê em apuros, para reaver). Isto mesmo foi reconhecido por uma pessoa bem conhecida que falava de elementos ligados ao próprio estado. O que foi que lhe responderam? Se ele tinha conhecimento, que apresentasse queixa. Ninguém disse que, se havia suspeitas, deveriam fazer-se investigações para apurar a verdade dos rumores. Já nem falar sabem. Também não é preciso. Embora eu ficasse mais descansada. Dá a ideia que vivemos num país sem rei nem roque. Onde os meninos protegidos fazem tudo e nada lhes acontece. Ninguém se importa, ou se interessa, pelo que o povo pensa. Também não interessa. Ele faz o que lhe mandam. Nada mais interessa. E é assim que deve continuar… para bem dele! Com algum descuido, ainda lhe acontece como àquele rapaz! Depois, há aqueles que opinam de uma forma curiosa, sobre estes acontecimentos de uma forma curiosa. Não sei porque motivo. São pessoas desconhecidas que afirmam que não podem censurar essas pessoas que se aproveitam dos seus cargos para enriquecer de forma ilícita porque, se estivessem no lugar deles, teriam a mesma atitude. Talvez essas pessoas, cujas vigarices foram descobertas, e as outras que se mantêm ainda na sombra, tenham essa mesma opinião sobre o povo em geral, que eles tomariam a mesma atitude se tivessem oportunidade para tal e, por isso, se mostrem tão descuidados. Quando ouvimos esta opinião de alguém, que não é ninguém socialmente falando, embora tenha essa pretensão, sobre aqueles que, por actos ilícitos foram apanhados nas malhas da justiça, está aberta a corrida para a meta da corrupção. Seguindo esta ordem de ideias, as falsas partidas não interessam, só conta quem chega primeiro. Sim, porque aquela pessoa acabou de legitimar aquilo que corre já para essa meta – a corrupção. O que me intriga é a moral que os elementos do estado têm em julgar os outros, apanhá-los e castigá-los, quando eles fazem o mesmo com uma única diferença – o que para uns é crime para outros é mentira. É sempre difamação ou perseguição de forças obscuras. O que me irrita é pensar na moral das pessoas que denunciam estes casos e só o fazem nas alturas das eleições. Isto não abona nada também a favor do perfil deles. Fazem o que está correcto com as intenções erradas. Em quem podemos confiar? Isto mostra bem a cobardia existente neste país. Está bem vivo aquele ditado popular que diz que “quem rouba um tostão é ladrão, quem rouba um milhão é barão”. Por tudo o que foi aqui dito, a corrupção grassa com a bênção de muitos apoiantes populares, que são da mesma natureza. Querem outro ditado que defende a filosofia da corrupção? Aqui vai – “Quem parte e reparte e não fica com a maior parte ou é tolo ou não tem arte”. Há muita gente que o utiliza para legitimar os seus actos. A honestidade não interessa. Morreu pobre…
Dizer mal tornou-se algo banal e parece querer alastrar-se a todos os aspectos da vida e, o que é mais grave, fala-se abertamente mal do que os outros fazem. Todos nós somos leitores e temos a nossa opinião sobre determinado livro que lemos, e, basicamente, gostamos ou não, por este ou outro motivo, e comentamos com amigos. Nada mais. Outra coisa é falarmos de um colega de profissão, falando da sua obra em termos depreciativos, e para mais, dizê-lo durante uma entrevista sua, e perante uma plateia de admiradores seus, e na presença de órgãos da imprensa…
Refiro-me a uma entrevista, que li recentemente, de um escritor português, de reconhecido mérito, e que conta com a admiração de muitos leitores nacionais e estrangeiros, para já não falar dos prémios nacionais e internacionais com que já foi presenteado. Nada tenho a dizer das respostas da sua autoria, não fosse uma única nota que colocou mau tom naquela entrevista, quando se referia a um outro escritor, nomeadamente ao último livro deste. Fiquei chocada porque, sinceramente, não esperava. E não esperava dele. E como na minha profissão, a minha posição foi sempre ajudar os outros, (mesmo quando terceiros falavam mal), ajudando-os, mesmo às escondidas, e outras vezes, com a cumplicidade de outros colegas, não percebo esta atitude, que não destoa, do que vulgarmente se passa por aí. Mas dele… eu não esperava isto. Não é por ser o escritor que é, porque sei que antes de sermos escritores, pedreiros, professores, actores, etc, somos, antes de tudo, pessoas. Eu não o conheço como pessoa, talvez tenha dito aquilo que realmente pensava, pois nunca me passou pela cabeça, o contrário. Só que não foi o momento, nem o sítio mais adequado para o fazer… Poderia ter esperado por um momento mais oportuno, onde pudesse falar calmamente com o escritor em questão e explicar-lhe porque não gostara do livro. Teria sido mais proveitoso. Também não sei a que se refere exactamente, quando diz que aquele é uma “m…”, mas não gosto de pensar que as coisas só têm uma maneira de ser feita, gosto mais de pensar que há mais do que uma, e que a literatura não é excepção. Depois, é só a sua opinião… e pelo número de volumes vendidos, há muitos leitores, seguidores do escritor visado, que gostam e que também precisam de ser respeitados. Sempre defendi que, independentemente da obra e do escritor que lhe deu vida, está também o gosto de um leitor, que por ser anónimo, passa despercebido, mas existe. Não vamos criar questiúnculas à volta daquilo que o outro faz, respeitemo-lo, simplesmente, gostemos ou não do que faz. Pelo menos publicamente.
Antes de mais, devo dizer que entendo o estilo como uma forma particular de utilizar a língua, o que diz respeito a cada um. Depois, a língua foi criada foi criada para servir o homem e não o contrário. Aliás, foi o próprio homem que a criou para o servir na difícil arte de comunicar e, no vasto oceano que ela é, cada um tem a sua maneira de se exprimir, isto é, o seu estilo. Na escrita passa-se o mesmo. E a literatura não é, também, excepção.
Há já algum tempo atrás, tive a oportunidade de passar os olhos por uma entrevista realizada a um autor português muito conhecido que conheceu o sucesso, nacional e internacional, que se traduziu num volume de vendas considerável, o que me enche de orgulho, e, desde já, desejo-lhe a continuação. Segui a entrevista com muito interesse, dando igual importância às perguntas e às respostas, como sempre faço. A determinada altura, deparo-me com uma questão que me deixou perplexa. O jornalista perguntava ao autor o que pensava de determinadas críticas que colocavam em dúvida a qualidade literária do seu estilo. Deve ser a pior questão que se pode colocar a um autor. Para mim, só há duas posições a tomar perante o estilo dos autores: ou se gosta ou não se gosta. E é tudo. Depois a linguagem literária não é, a meu ver, unívoca mas plurívoca. Ninguém pode obrigar ninguém, nem deve, a escrever como qualquer outro autor cujo mérito é reconhecido por uma determinada classe cultural. O estilo é pessoal e, como tal, nunca poderá ser posto
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