O povo (aqueles que ainda acreditam e votaram) fez ouvir a sua voz. Votou maioritariamente à esquerda. Não se decidiu por um só partido mas por vários. Digamos que a esquerda recebeu um voto de confiança. Agora é esperar para ver.
António Costa é um sobrevivente, o político típico que se metamorfoseia quando a morte política se anuncia. Depois, das eleições apercebeu-se de que havia uma via por explorar e aproveitou-a: a esquerda era maioritária no parlamento. Depois do espectáculo, antecipado pelos meios de comunicação, do “governo mais curto” da história da democracia, há uma possibilidade de que esta “coligação” de esquerda (feita à última hora) pode aproveitar a seu favor ou desperdiçá-la para sempre. Sabemos que a direita não está contente e que as grandes fortunas estão já a recorrer a advogados para fugir ao imposto sucessório… (o que já revela nervosismo da parte de quem tem muito e não quer contribuir na devida proporção) e vai fazer uma oposição implacável e tudo vale ou não fosse a política o maior “esterco” humano onde interesses particulares se sobrepõem aos do país/povo. (Afinal, a luta pelo poder é partidária e não apartidária, e têm apoiantes que têm de satisfazer!)
Como dizia, ou a esquerda agarra esta oportunidade e sabe aproveitá-la com inteligência e imaginação para fazer face aos problemas que vai herdar dos executivos anteriores ou se deixa bloquear pelas suas próprias questiúnculas internas acabando no suicídio político mais rápido da história. Esperemos que tenham sabido interpretar a vontade popular. É lógico que a “crise” teve culpa nesta situação. Mas só em parte. Afinal, foi a reacção a ela que levou ao descontentamento popular. As propostas do FMI para cortar nos gastos estatais acabou com o governo anterior que não soube aplicá-las nas “gorduras” do organismo estatal acabando por atacar as “carnes magras”. (É como um medicamento tomado para um determinado objectivo acabando por fazer outro efeito totalmente diferente no organismo.) As “carnes magras”, saturadas do medicamento prescrito, acabaram por exigir uma receita nova.)
Ao contrário do que alguns “velhos do Restelo” defendiam, afirmando que mais valia ficar o antigo governo porque já se sabia o que esperar (e não era bom), acho que agora há uma esperança de que alguém consiga fazer algo diferente e melhor. O caminho não vai ser fácil já o sabemos. O governo grego já o tentou mas os interesses por trás da política, e que estão a ganhar com a situação, não deixaram o que é profundamente estúpido. É muito simples. Quem é que ganha com a miséria dos outros? Quem promove políticas que em vez de estabelecerem formas de pagamento alternativas, e mais justas, insistem no garrote que leva à morte financeira dos países economicamente mais frágeis? Quem lucrará com isto a médio e longo prazo? Alguém que não leu a história da “Galinha dos ovos de ouro”. Alguém, (e são muitos!), que ainda não percebeu que a Europa é mais do que a soma de países. É uma Europa de muitos “eus” (não todos) capazes de pensar e com uma ideia clara do que querem apesar da “desinformação” com que são bombardeados.
Penso que a Europa não se preparou bem para a união e agora vê-se a braços com problemas que já deveria ter antecipado e, o pior de tudo, não tem soluções para eles. Pelo menos, não são minimamente imaginativos para criarem soluções (ou não querem) razoáveis que façam todos os países sentir-se parte integrante dessa nova geografia económica. E mais uma vez vai perder com isso depois de muita gente ganhar.
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