opiniões sobre tudo e sobre nada...

Quarta-feira, 1 de Setembro de 2010
José Saramago

Conheço pouco a obra e a pessoa. Confesso que a sua escrita não é, para já, um factor de atracção. Não é culpa sua, mas minha. Fui habituada a um tipo de escrita tão direccionado com pontuação que me perco na sua. Tentei, uma vez, ler O Memorial do Convento e não passei da primeira página. É uma tarefa adiada. Li, contudo, um pequeno conto e alguns artigos e conheci, por breves momentos, a pessoa. Nunca mais me esqueci desse dia. Foi no Instituto Cervantes, em Lisboa. Ele falava da obra de Torrente Ballester. Um catedrático, que havia conhecido o autor, falava do autor. Gostei do que ouvi e comprei algumas obras do referido autor. Voltando a Saramago. Marcou-me a sua presença. Havia algo nele, na pessoa, que me cativou. Apesar da forte timidez que me caracteriza, ganhei coragem para me aproximar. Esperei uma aberta e lá fui. Não sabia exactamente o que poderia dizer - nessa altura, nem a obra eu conhecia, não tinha lido nada – ainda assim, ganhei coragem e aproximei-me. O que mais lhe quis expressar foi o orgulho e a emoção que sentia por ter ganho um prémio daquela envergadura. E por ser português! E foram estas as palavras que me saíram, um pouco atabalhoadamente. Esperava sobretudo que não me perguntasse se tinha lido alguma das suas obras! Teria de ser sincera! E não queria magoá-lo! Lembro-me de me ter observado, por momentos, do alto da sua estatura, de uma maneira que o caracterizava. Senti estar a ser avaliada. Não me importei. Afinal, uma pessoa como ele tem de se proteger! Mas a sua imagem preencheu a minha mente. Não sei exactamente o que senti pois estava nervosa por me encontrar na presença de alguém tão grande (não falo da estatura!). Do meu canto, já mais descansada, observei-o mais detalhadamente enquanto cumprimentava e falava com algumas pessoas. Sensibilizou-me a forma como se relacionava com as pessoas: honesta e frontal. Pareceu-me um ser racional e, ao mesmo tempo, sensível. Senti-o enquanto ser humano e a verdade é que me agradou. A impressão que me deixou. Leva-me a ter desejado conhecê-lo mais intimamente pois sei que teria de aprender muito com ele, embora não me sinta distante da pessoa que era. Sempre dei valor à pessoa que estava por trás de uma obra e, por vezes, decepcionei-me profundamente. Não foi o caso. Acreditei na pessoa que estava à minha frente. Não me interessa o que dizem os demais, a verdade é o que eu senti, não o que dizem. É um homem que me faz orgulhar de ser portuguesa. Para além do grande escritor, senti nele um homem de bem. Que se pode pedir mais?



publicado por fatimanascimento às 22:56
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Domingo, 18 de Abril de 2010
camaleões da escrita

Conheci uma pessoa que trabalhava numa escola. Foi educada para o sucesso. Nada contra isso. Mas se a pessoa não tiver nada para dar? Por baixo da capa de alegria empática, há uma pessoa muito frustrada e perigosa. Nunca conseguiu nada. Tudo quanto tem copiou de outrem, isto é, tudo quanto parece inovação é uma simples cópia. O pior é que o erro não fica por aqui. Essa educação passou inevitavelmente aos rebentos que agem de acordo com os exemplos da progenitora. O objectivo é só um – notoriedade. No ensino pode não ser tão notório mas na escrita é diferente. Penso que todos devem, e trazem se forem honestos consigo próprios, trazer algo seu a tudo quanto realizam, isto é, há sempre uma marca pessoal. Na escrita não é diferente, Detesto quando me dizem que devo ler este ou aquele autor, quando nada me dizem, para poder crescer como escritora. A verdade é que leio um pouco de tudo mas sem a preocupação de imitação. Entenda-se imitação no bom sentido, no sentido de aprendizagem. Gosto mais de uns do que outros, é uma verdade, mas não deixo de apreciar a forma como se expressam. Na verdade, é que penso que em pouco ou nada me poderão influenciar na forma como me expresso (embora nos mostre outras maneiras de lidar com a forma). Mas o sentimento e a sua expressão é algo muito pessoal que marca a sua escrita. Tive uma outra colega que imitava, não diria na perfeição mas quase, os mais diversos estilos de autores portugueses consagrados. Isto, para mim, não é ser-se escritor. As pessoas que trabalham desta forma, não passam de meras imitadoras. Todo o escritor tem o seu estilo que se reconhece facilmente. Quem não reconhece a voz de Saramago ou de Lobo Antunes, de Eça ou outro qualquer? O que os diferencia? O estilo, a voz. O que acho medíocre é educar para o sucesso incitando à imitação. Se vende, se tem sucesso, e se, ainda por cima, se conhece a pessoa (muitos dos abusos nascem aqui) por que não imitar? É isto que não compreendo. Como é possível educar alguém para a imitação de um estilo só porque tem sucesso ou vende? O que aporta essa pessoa para a inovação/diferenciação? O pior é que os leitores podem cair nessa armadilha sem mesmo desconfiarem da imitação. Como é isto possível?



publicado por fatimanascimento às 20:03
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Sexta-feira, 16 de Abril de 2010
Harold Pinter

Os livros trazem surpresas agradáveis. Não todos. Alguns. Tive a oportunidade de comprar um livro pequeno de poesia do autor Harold Pinter. Chegou-me às mãos num catálogo enviado por uma editora, por ocasião da celebração da entrega do prémio Nobel. Hesitei. Era-me totalmente desconhecido, mas ficou a curiosidade. Comprei o mais barato. E o mais estreito também. Arrumei-o na prateleira, junto de tantos outros, à espera de tempo para o ler. Contudo, ao folhear o livro, dei conta da foto debaixo da qual estavam algumas frases suas ali colocadas à laia de apresentação. Não poderiam ter escolhido melhor. Sempre senti curiosidade em conhecer a pessoa que está por trás das palavras. Mais importante do que as palavras, são as pessoas. Aquilo que elas são. Posso dizer que aquela meia dúzia de frases teve um impacto tão forte em mim quanto o conteúdo do livro. Já tivera outras experiências semelhantes. Estou a lembrar d’ “O Senhor do Anéis” em três grossos volumes que tive a infelicidade de emprestar a uma pessoas que nunca mais mos devolveu. Esta obra vinha precedida de uma espécie de nota introdutória que li com muito interesse. Nela, o autor contava as peripécias ocorridas no percurso da obra antes da mesma conhecer a madrugada da impressão. Sublinhei, a lápis, algumas partes que achei interessantes e que me acompanharam desde então. Nesta última, porém, a ideia prendeu-se a mim. Talvez porque me revi nelas. Na verdade que nelas impressa. Diz assim: “Em 1958 escrevi: não há grande diferença entre aquilo que é real e aquilo que é irreal, nem entre aquilo que é verdade e aquilo que é falso. Uma coisa pode não ser nem verdadeira nem falsa. Pode ser ao mesmo tempo verdadeira e falsa. Acho que esta afirmação ainda faz sentido e se aplica ainda à exploração de realidade através da arte. Por isso, enquanto escritor defendo esta afirmação. Mas enquanto cidadão não, enquanto cidadão tenho de perguntar o que é que é verdade? O que é que é falso? - Harold Pinter, Abril 2002”. É isto que, enquanto cidadãos responsáveis devemos fazer. É uma obrigação moral. Para evitar que o mundo se transforme num esgoto humano cheio de lodo viscoso onde corremos todos o risco de nos afogarmos. Num mundo de mentiras e meia verdades e verdades destorcidas onde já quase ninguém é o que parece, corremos o risco de parecer algo que nada ou pouco tem a ver com a essência humana. Como detesto a mentira, acho que toda a mentira é uma traição, e vivo rodeada delas, não podia encontrar em melhor altura tais palavras! Alguém que, finalmente, declara alto e bom som o seu interesse pela verdade. São tão poucos! No seu caso acho que se pode afirmar que por trás de um grande autor, há uma grande pessoa! Há uma boa pessoa! A sua luz apagou-se no ano de 2008. Mas este homem interessante deixou uma obra que merece ser seguida com atenção.



publicado por fatimanascimento às 20:02
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Domingo, 4 de Abril de 2010
camaleões da escrita

Conheci uma pessoa que trabalhava numa escola. Foi educada para o sucesso. Nada contra isso. Mas se a pessoa não tiver nada para dar? Por baixo da capa de alegria empática, há uma pessoa muito frustrada e perigosa. Nunca conseguiu nada. Tudo quanto tem copiou de outrem, isto é, tudo quanto parece inovação é uma simples cópia. O pior é que o erro não fica por aqui. Essa educação passou inevitavelmente aos rebentos que agem de acordo com os exemplos da progenitora. O objectivo é só um – notoriedade. No ensino pode não ser tão notório mas na escrita é diferente. Penso que todos devem, e trazem se forem honestos consigo próprios, trazer algo seu a tudo quanto realizam, isto é, há sempre uma marca pessoal. Na escrita não é diferente, Detesto quando me dizem que devo ler este ou aquele autor, quando nada me dizem, para poder crescer como escritora. A verdade é que leio um pouco de tudo mas sem a preocupação de imitação. Entenda-se imitação no bom sentido, no sentido de aprendizagem. Gosto mais de uns do que outros, é uma verdade, mas não deixo de apreciar a forma como se expressam. Na verdade, é que penso que em pouco ou nada me poderão influenciar na forma como me expresso (embora nos mostre outras maneiras de lidar com a forma). Mas o sentimento e a sua expressão é algo muito pessoal que marca a sua escrita. Tive uma outra colega que imitava, não diria na perfeição mas quase, os mais diversos estilos de autores portugueses consagrados. Isto, para mim, não é ser-se escritor. As pessoas que trabalham desta forma, não passam de meras imitadoras. Todo o escritor tem o seu estilo que se reconhece facilmente. Quem não reconhece a voz de Saramago ou de Lobo Antunes, de Eça ou outro qualquer? O que os diferencia? O estilo, a voz. O que acho medíocre é educar para o sucesso incitando à imitação. Se vende, se tem sucesso, e se, ainda por cima, se conhece a pessoa (muitos dos abusos nascem aqui) por que não imitar? É isto que não compreendo. Como é possível educar alguém para a imitação de um estilo só porque tem sucesso ou vende? O que aporta essa pessoa para a inovação/diferenciação? O pior é que os leitores podem cair nessa armadilha sem mesmo desconfiarem da imitação. Como é isto possível?



publicado por fatimanascimento às 20:49
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Terça-feira, 22 de Setembro de 2009
Criação e revisão

O acto criativo é imperfeito, devendo sempre ser objecto de várias revisões. No acto febril da escrita o escritor acompanha a velocidade da inspiração sacrificando-lhe tudo o mais. Só depois de este estar realizado, ele poderá inclinar-se sobre o texto para o melhorar, tendo em conta todos os aspectos antes forçosamente negligenciados. Para tal, é preciso um distanciamento em relação ao texto que nem todo o autor tem ou consegue por mais que se esforce. E mesmo quando, e se, consegue esse distanciamento, há sempre aspectos/pormenores lhe escapam, por mais revisões que faça. Desta forma, é imperioso que alguém para além dele, confira o texto. E há pessoas que são muito boas a realizar esta tarefa. Para se fazer uma revisão em condições, é necessário o autor conhecer alguém de confiança, o que é difícil e às vezes mesmo impossível, que se digne a fazer tal tarefa. O ideal seria a editoras terem ao seu serviço pessoas qualificadas para tal, isto é, capazes de apanhar todos os pormenores que escapam aos autores, respeitando sempre o texto inicial, porque, muitas vezes a criação afasta-se das regras, o que nem toda a gente entende. A criação não tem regras, embora muitos se adaptem a elas. O acto de criação é de pura liberdade. Não dá para ser entendido de outra forma. (Quantas vezes, os autores, ao escreverem, escolhem uma determinada palavra no ardor do momento da criação, depois, não realizados com a mesma, voltam atrás, substituem-na por outra esquecendo-se de fazer o acordo com a nova palavra escolhida. Este é um exemplo entre muitos.) Nos dois primeiros livros por mim editados, não tive a sorte de ter alguém de confiança que pudesse fazer a revisão ou ajudar na mesma. Não conhecia ninguém. (As circunstâncias também não ajudaram. O furto de um dos contos, constante do primeiro livro, levou à precipitação da publicação do mesmo, uma vez que não se sabia o que o furtador tinha em mente.) Quanto ao terceiro, foi diferente, já tive a oportunidade de ter a ajuda preciosa de uns colegas que ao lerem o meu manuscrito apontaram algumas gafes que não detectei na minha revisão. Neste último, procedi à correcção via e-mail, e entreguei à editora para que procedesse à revisão. Depois de muitos envios e reenvios, verifiquei se a revisão tinha sido feita. Não verifiquei o texto todo, só algumas partes. Quando, finalmente, tive a coragem de abrir um exemplar e de o ler, verifiquei, horrorizada, que muitas das correcções, realizadas pelos meus colegas e por mim, não haviam sido feitas. Já havia solicitado à editora que me enviasse o programa da paginação para proceder, eu mesma, à correcção textual. Não me foi dado por razões que me pareceram justificáveis, mas o que se pode esperar é que o pessoal da editora o faça, pelo menos quando solicitado para tal. Algum e-mail, com as correcções, se deve ter perdido. Só isto explica que umas tenham sido feitas e outras não. O que foi pena porque o produto final estava bom.

A revisão é um trabalho necessário embora, na minha opinião, aborrecido. Prefiro mil vezes escrever um texto novo do que andar à caça do erro, seja ele qual for. Depois a falta de distanciação do autor em relação ao texto criado não ajuda. Esta consiste em entendê-lo como um prolongamento de nós, e estamos tão apaixonados por ele, (pela estória, entenda-se), que não conseguimos detectar as gafes. Todo o acto de criação é um acto de paixão, ou não teria sentido de outra forma. Leva algum tempo a arranjar a objectividade necessária para procedermos à revisão. E tempo foi o que me faltou nos dois primeiros. No terceiro, terá sido a perda de um e-mail… Assim ter-se-á de arranjar uma solução. Talvez a editora faça a correcção na segunda edição. Assim o espero…

 

Fátima Nascimento

 



publicado por fatimanascimento às 14:48
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