Há uns tempos atrás, lia uma entrevista com o economista John Galbraith que achei de tal maneira interessante que escrevi um artigo sobre ela. Para além de tudo o que disse e que achei extraordinariamente interessante, estava também a ideia acima colocada. Ora, num momento em que se fala tanto de dívida pública do país ao estrangeiro e das medidas mais duras que estão ainda para ser aprovadas e que não tardam a sair, e tendo escolhido a Europa medidas que nada mais fazem do que mergulhar os países mais afectados pela crise numa profunda crise de abatimento psicológico da sua população (ele próprio falava disto na entrevista) por que é que os países não escutam as suas palavras e vendem a dívida à sua própria população? Segundo o próprio perito, ele colocou já esta questão aos funcionários do Fundo Monetário Internacional que não souberam responder-lhe. Então a ideia é pertinente. Então, como é que ninguém teve esta ideia antes? Ou será que teve mas, como todas as que saem do que é tradicionalmente feito, caiu em saco roto? Qual é, afinal, o problema de a população do próprio país comprar a dívida do mesmo em vez de a compra ser feita por pessoas desconhecidas, gananciosas e sem escrúpulos? O país não sairia a ganhar? O país não somos nós? Quem melhor do que nós está interessado na salvação do país? Outra questão que me intriga: por que é que o que procedimento da Islândia (embora a votação tenha sido renhida: cinco votos a favor e quatro contra ) - o primeiro-ministro vai ser julgado em tribunal por ter mergulhado o país na profunda crise em que se encontra – não pode ser alargado aos restantes países? Este já é um passo importante que abriu as portas a futuras possibilidades. Os governantes – e outros - não podem sair impunes da má gestão do país que mais não é do que o dinheiro do povo. Por que é que aquele senhor norte-americano, cujo nome não me lembro, responsável pela ideia do lixo económico comprado pelos vários bancos, em vez de génio, como já se lhe referiram numa reportagem, não percebem que é um vigarista e oportunista que merece estar atrás das grades? Será que é por ter enriquecido com a ideia de enganar os outros - e ser responsável pelo enriquecimento de alguns que apostaram e perceberam a ideia dele, que não lhe deitam a mão? Por que é que Madoff está preso, e caiu em desgraça, e o outro continua em liberdade, sendo o responsável pela abominável situação em que deixou alguns países? Por que não emitem um mandato de captura? O que é que acontece na mentalidade das sociedades capitalistas que faz com que a justiça não seja eficaz para alguns? Enquanto a justiça não actuar, e continuar assim, durante mais algum tempo, os países e toda a economia em geral, vai estar sempre “no fio da navalha” que o mesmo é dizer, vai estar sempre a saque. E sempre que isto suceder, vamos estar sempre mergulhados em crises mais ou menos profundas, com as mesmas soluções exigindo sempre mais daqueles que têm menos, em nome não sei do quê… talvez de nada! Talvez este vazio judicial interesse a alguns… talvez muitos… nunca se sabe…
Quando ouvi a notícia da boca do senhor primeiro-ministro, José Sócrates, não duvidei das suas intenções. O que não gostei foi da explicação onde as aparentes boas intenções denunciavam o nobre acto de ajuda aos portugueses, evitando que eles perdessem as suas poupanças. Quanto à ajuda aos portugueses, eu não discuto, agora o que é discutível é quais os portugueses que ele se propõe ajudar. Terão de ser necessariamente aqueles que têm dinheiro investido nesses bancos e que vivem da actividade desses bancos, os outros não serão com certeza. A maioria dos portugueses desconhecerá mesmo o nome de alguns que agora estenderam a mão à ajuda estatal. Não entendo também como não há dinheiro para nada, neste país, e quase nada se faz em nome da contenção financeira e da eterna crise, e quando o sistema bancário estremece, o estado corre logo em defesa deles, alegando a ajuda aos portugueses, a maioria dos quais sobrevive com pensões e ordenados mínimos que estão a proliferar no país como uma verdadeira epidemia. E o montante não é tão pequeno quanto isso… Quando confrontado recentemente com uma pergunta nesse sentido, por alguém que, dando ouvidos ao cepticismo que reina por aí em relação à classes dirigentes, o senhor primeiro-ministro voltou a afirmar, com a sua habitual convicção, embora manifestando, desta vez, algum nervosismo, perante tão incomodativa pergunta, de que o faz em nome dos portugueses. É claro que ninguém acredita nisso! Nem ele mesmo acredita! O que se tem de fazer é manter as aparências e é o que ele está nitidamente a fazer. Agora, a ser verdade e a acreditar nas suas palavras, porque é que ele não propõe aos bancos em ruptura financeira, (muitos, talvez, por culpa deles!) que encontrem entre eles uma outra solução? Porque não se fundem entre eles, juntam o dinheiro que ainda lhes resta, e se lançam no mercado de uma forma mais séria e responsável? Esta, senhor primeiro-ministro, seria sem dúvida uma decisão política que defenderia o interesse de todos os portugueses e não só de alguns. Porque o dinheiro faz falta em muitas áreas, senhor primeiro-ministro, não é só na banca portuguesa. Depois, e ao que se conhece do caso BPN, nada nos leva a crer que esse dinheiro não venha a ser usado de forma irresponsável.
Um dia destes, à saída do supermercado, passei por uma banca com alguns bonecos. Percebi logo do que se tratava. Estavam a vendê-los no sentido de angariarem fundos para ajudarem uma boa causa. A banca estava abandonada. Ninguém nas imediações. Como também não estou em posição de ajudar, limitei-me a varrer com o olhar aquela mesita colorida, com um exército de bonecos perfilados, (entre outros objectos), esperando pacientemente o momento da sua remoção. Quando menos esperava, a responsável pela bancada, apareceu nas minhas costas, perguntando-me se estaria interessada em ajudar aquela causa. Recordei-me que é precisamente em Outubro que começam estas campanhas e que foi sempre nesta altura que eu fui metralhada com pedidos oriundos dos mais diversos quadrantes. Poder-se-ia dizer, sem exagero, que o país sai à rua neste mês para fazer o peditório. Enquanto trabalhei, e como todas as pessoas que sobrevivem com um magro salário mensal, sempre fui ajudando na medida das possibilidades. Agora, infelizmente, não posso. Até o direito à ajuda ao próximo me foi cortado. Ainda assim, consigo fazê-lo, algumas vezes. Nada de extraordinário. Ora, se havia meses mais problemáticos enquanto trabalhei, agora todos os meses são problemáticos. Este mês, por sinal, está a ser particularmente difícil, devido a problemas pessoais que estou a tentar resolver, e enquanto não se resolverem esses problemas, tenho de aguentar. A senhora virou-se para mim e perguntou-me se não queria contribuir. Eu expliquei-lhe a minha situação. Lá concordou comigo. Retomei a marcha rumo à porta automática. Mas, a determinada altura, não se dando por vencida, insistiu que a contribuição se resumia a um só euro. Voltei-me para ela e expliquei-lhe que, no meu caso, um euro era muito dinheiro neste momento… e é verdade! O que se passa é que as pessoas não fazem a mínima ideia do que é estar desempregado, sem ajudas de governamentais, e muitas nem querem saber sequer…
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