Muito se fala de divórcio, devido à lei que veio reformar alguns dos processoas tornando todo o processo mais fácil. Todos nós já passámos por um divórcio e aqueles que não passaram têm bem presente casos conhecidos mais ou menos penosos. Raros são os casos em que tudo se desenrola sem problemas. Tudo depende do grau emocional dos envolvidos e da vontade de verem o caso resolvido. Sempre que oiço falar de divórcio vem-me à memória o conselho de um advogado já muito batido nestas andanças dos problemas da vida – despachar tudo quanto antes, quando tudo está ainda quente, porque, depois, começa-se a pensar mais friamente no património e nunca mais se resolve a questão. Eu segui o seu conselho e devo dizer que foi o melhor que eu fiz. Foi o melhor conselho que recebi nessa altura da minha vida. Para ambos. Chegámos a um acordo. Em Setembro ou Outubro começámos a tratar dos papéis e depois daquelas sessões absurdas de tentativa de reconciliação, (ele encontrara já outra senhora!) que nos fizeram perder tempo precioso, estávamos legalmente divorciados no dia 15 de Dezembro e em Janeiro do ano imediato as partilhas estavam feitas. Tudo decorreu sem imprevistos e o alívio de ambas as partes era visível. Mesmo para os garotos foi bem mais fácil. Por isso, sou da opinião que tudo quanto vier acelerar todo este processo difícil de divórcio é bem-vindo. O que há que evitar, a todo o custo, são sempre os divórcios litigiosos sempre bem mais desgastantes e longos e que em nada vêm beneficiar as duas partes. Um dos problemas que nos facilitou esta difícil parte da nossa vida foi o facto de o património ser pouco. O dinheiro que também não abundava, levou-nos a procurar a mesma advogada que colocou no papel um acordo que beneficiava as duas partes e os miúdos. Talvez tudo tenha decorrido de forma rápida porque eu aprendi que não se deve tentar reter junto de nós uma pessoa que já não nos ama. (E devo dizer que é horrível viver ao lado de alguém a quem nós já nada dizemos como mulheres.) Assim, ajudei-o (independentemente de ele ser ou não merecedor da minha ajuda) até lhe arranjei casa quando ele evocava, a dada altura, ser essa a única razão pela qual não abandonava aquela que era casa comum, (e sempre debaixo da mira da desconfiança dele, que julgava que eu tinha um trunfo qualquer na manga), e dei-lhe muito do mobiliário que guarnecia a nossa casa, para os ajudar também a eles. Esta atitude mereceu as críticas de pessoas mais chegadas que não perceberam a minha atitude e achavam que ele não devia levar nada. Consegui, entre críticas e gemidos de intolerância, encontrar o equilíbrio necessário para resolver este problema que, para muitos, era um bicho-de-sete-cabeças, e que me consideravam parva por ter cedido a dar-lhe fosse o que fosse. Nem as pessoas de fora ajudaram. Nada nem ninguém nos pode ajudar a não ser nós próprios e a nossa vontade de ver tudo acabado e o mais rapidamente possível e da forma mais justa para todos os envolvidos. Aqui, também se tem de realçar o papel dos advogados… há advogados boas pessoas que fazem um bom trabalho, mas há outros que são manifestamente más pessoas e que realizam um mau trabalho mas que também servem de medida para avaliar o carácter das pessoas que os contratam… A lei pode ser muito boa, mas se a vontade não for de nada serve toda e qualquer reforma legislativa no sentido de facilitar o processo, sempre penoso.
Troco correspondência regular com amigos brasileiros, leio autores brasileiros, tive alunos e colegas brasileiros e nunca senti a necessidade de fazer fosse o que fosse em relação à língua que partilhamos, nem mesmo no que respeita à ortografia. Esta nunca foi impedimento para a compreensão do conteúdo da mensagem, pelo que nunca tive necessidade de impor nada a ninguém ou vice-versa. De lá, também nunca me apercebi de nenhuma dificuldade na compreensão dos meus textos, e devo já esclarecer que falamos através do msn, que está muito em voga agora. O que dificulta, por vezes, a compreensão dos textos é algum vocabulário brasileiro, com o qual nós estamos menos familiarizados, mas até isso é enriquecedor.
Um dia, uma aluna nova, de nacionalidade brasileira, veio ter comigo muito preocupada com a ortografia, pois sabia que havia disparidade entre o português do Brasil e o de Portugal. Punha-se a questão do que lhe haveria de exigir. Acordámos que a minha aluna escrevia em português com a ortografia brasileira (que aprendera durante os sete anos prévios) e eu respeitava, desde que estivesse correcta. Ajudava-a em muitos aspectos, mas nunca toquei na ortografia ou lhe disse que não era assim que se escrevia, pois seria eu que estaria errada. Jamais procurei impor a ortografia portuguesa à moça, respeitando sempre a forma e o trabalho de colegas brasileiros que, anos antes, se esmeraram a ensiná-la a escrever correctamente, isto é, de acordo com as normas ortográficas brasileiras. Foi muito enriquecedor, mesmo nestas idades, tanto para ela como para os colegas, saberem que a língua pode ter disparidades na sua evolução, só temos que as aceitar, como algo adquirido e respeitá-las. Muitas vezes, ao escrever no quadro, a aluna intervinha dizendo “Que engraçado, no Brasil, nós escrevemos… Eu já me tinha perguntado como seria escrita essa palavra, aqui, em Portugal”. Balanço do convívio das duas línguas? Muito positivo e enriquecedor, para ambas as culturas.
Um ano, tive uma colega brasileira, também ela professora da disciplina de Língua Portuguesa, e ela contou-me da dificuldade que encontrara em se afirmar aqui em Portugal, por ser brasileira e por ser professora da língua. Chegara mesmo a desenhar-se aquilo que poderia se ter tornado numa verdadeira perseguição, por parte de alguns colegas. Só por causa da língua… Que engraçado, onde alguns vêem riqueza, outros vêem ameaças. Os alunos aprenderam as diferenças ortográficas facilmente; ora, porque é que nós, adultos, complicamos sempre tudo?
Sempre fui apologista da liberdade, mesmo a da língua, reservando-lhe o direito de seguir o seu caminho sem confusões.
Fátima Nascimento
Projecto Alexandra Solnado
links humanitários
Pela Libertação do Povo Sarauí
Músicos
artesanato
OS MEUS BLOGS
follow the leaves that fall from the trees...
Blogs
O blog da Inês
Poetas