Há pouco tempo, fui confrontada com uma aluna insegura que me dizia não estar a compreender a matéria. Acedi ao pedido deixando-a assistir à aula de apoio pedagógico acrescido. Comecei a realizar exercícios no quadro tentando perceber onde residiriam as dúvidas, uma vez que ela não me tinha dado qualquer tipo de indicação nesse sentido. Para meu espanto, ela não dominava a matéria não porque não a compreendesse mas porque jamais olhara para ela, desde que a dera na aula, há algumas semanas atrás.
Desde sempre, tenho o cuidado de, depois de dar um conteúdo, perguntar, aos alunos, se perceberam. Quando a resposta era positiva, avançava sem outras preocupações. Foi o que aconteceu desta vez, pelo que foi com espanto que recebi a notícia da aluna. Pedi-lhe que abrisse o livro em determinada página, o que a levou a questionar-me sobre o motivo. Disse-lhe que só poderia resolver os exercícios se soubesse o que cada fenómeno fonético significava. Disse-lhe para não ter pressa, até refreei alguns alunos que, impacientes e cansados, punham e tiravam o dedo do ar. Ela, notando a ansiedade dos colegas, apressava-se e atrapalhava-se atirando com um nome para o ar. Pedi-lhe calma e que tomasse o tempo que precisasse. Quando, finalmente, encontrou aquele que encaixava, na perfeição, no exercício, disse-o em voz alta. Fiquei contentíssima! Ela percebera onde estava a sua dúvida. E, quando a empregada bateu à porta para lhe dizer que o pai estava à sua espera para almoçar, ela saiu toda contente. Percebera que precisava de conhecer a matéria para, então, tentar fazer os exercícios. E, melhor, que conseguia fazê-lo, em casa, sem ajuda! Bastaria, para tal, ler os fenómenos e resolver, depois (ou em simultâneo), os exercícios.
Fiquei orgulhosa dela! E já avisei os outros, mais novos, que me dizem também que percebem tudo e que é fácil que fico à espera do teste para ver se continuam com a mesma opinião. É que já estou à espera que estudem, também estes, na véspera do mesmo!
Isto faz-me perceber que, desde o meu tempo, a escola ou a maneira como é encarada pelos alunos, não mudou em nada. Tal como eu já fiz, também apanhei duas alunas que, sob o pretexto de não terem o livro da disciplina, resolviam os exercícios de matemática na minha aula. Expliquei-lhes como poderiam ultrapassar esse problema e elas concordaram, tendo ficado com a matéria no caderno! Tudo foi resolvido sem dramas e com muita calma. Afinal, tudo tem solução, se estivermos à altura da situação!
Há casos que são verdadeiramente ridículos. Tanto assim que quando são denunciados publicamente, ficamos sem perceber como é que poderão situações destas acontecer. Estamos a falar de firmas contratadas pelo estado para a realização de trabalhos de construção. Desta vez, teve a ver com um percurso rodoviário que todos conhecem como o túnel do Marquês. Quando se contrata uma empresa dentro do que se costuma designar por Parcerias público-privadas, tem-se em mente que aquela realizará um trabalho digno da contraproposta financeira acordada entre ambas as partes e que, quase sempre, acabam por ultrapassar as quantias inicialmente fixadas entre ambas as partes. São as tão badaladas derrapagens orçamentais. Estas, confiamos, têm o saber necessário capaz de fazer um trabalho satisfatório. Ora, muitas pessoas, depois do arranjo do túnel, já dera pelas familiarizadas fossas de escoamento de águas pluviais. Muitas se espantaram com a falta de tão necessária infraestrutura. Mas ninguém fez nada, para além dos habituais comentários pouco agradáveis referentes às pessoas que haviam feito tão mal trabalho. Finalmente, houve um senhor, com coragem para enfrentar as câmaras de televisão e os responsáveis da obra, chamando-os à atenção para tão fraca prestação. Afirmava, e com razão, a diferença de conhecimentos resultantes dos anos de estudos que aqueles responsáveis tinham comparando-os com a sua pouca escolaridade realçando a falta de visão ou distração daqueles. Ele estava admirado como as obras haviam sido concluídas sem que as indispensáveis infraestruturas estivessem prontas. E o resultado daquela obra, seria, como muito bem o provou, a inundação do túnel, em caso de enxurrada, pois as águas não tinham por onde escoar.
Esta foi só uma das muitas obras que se vão fazendo por esse país fora sem, aparentemente, o mínimo de critério. Isto revela que os estudos universitários não dão inteligência e visão a ninguém. Aquela nasce ou não com a pessoa, dá-me a sensação. Já encontrei pessoas ignorantes muito inteligentes e pessoas cultas muito estúpidas, o que não deixa de ser aflitivo.
A universidade prepara as pessoas para a vida com o saber necessário capaz de as fazer desenvolver dignamente a sua atividade mas não pode fazer mais… resta saber se os altos encarregados da obra tinham tirado o curso ou se, à semelhança do que se vem passando, obtiveram muitas equivalências ou nem sequer acabaram o curso… Neste país, tudo é possível! Haja “cunhacimentos” e as pessoas estão safas independentemente da sua existente ou inexistente competência…
Cada vez mais é difícil confiar nas autoridades. Todos sabemos que já se tornou hábito dizerem uma coisa hoje e, amanhã, fazerem outra. Mas o que mais incomoda, é que a mentira está em todo o lado! As versões oficiais são sempre, mais cedo ou mais tarde, desmentidas por particulares. Estou a lembrar-me concretamente de alguns casos. A militar americana transformada erradamente em heroína até ela contar a verdade; tempos, depois, o caso do burocrata do FMI que bateu com a porta, envergonhado por ter pactuado, durante vinte anos, com uma equipa de mentirosos; finalmente, o caso da morte de Bin Laden que teve também duas versões: a oficial e a privada. Parece que nada do que é oficial, pode ser encarada como verdadeira! Além disso, temos as consequências nefastas para os que se atreveram a contar a verdade. E é preciso coragem, para enfrentar toda uma máquina governamental enraivecida por ter sido desmascarada! A verdade, nesta sociedade, tem um preço exorbitante. A mentira é mais barata! Parece vender mais! Só que ninguém gosta de ser enganado. E, quando a verdade surge, a corrida à verdade é estonteante! Todos querem saber o que aconteceu e como realmente aconteceu! E nunca me apercebi que essas pessoas buscassem fama ou alguma forma de notoriedade. Parecem avançar por motivos mais sérios. O que faz um militar falar de uma missão secreta que foi confiada à sua equipa? Uma vez terminada, poderia ter seguido a sua vida, sem nunca pensar mais no assunto. Então o que o incomodou de tal forma capaz de o fazer contar a verdade dos acontecimentos, desmentir o comunicado oficial dos acontecimentos, arriscar o tribunal militar e destruir uma carreira abraçada anteriormente? Tudo leva a crer que algo ocorreu nessa missão que o tocou negativamente. Não foi pela mera vontade de denunciar os colegas e a situação gratuitamente. A verdade, tem dois lados: a dos vencedores e a dos vencidos. Talvez ele tenha encarado os acontecimentos do ponto de vista mais embaraçoso – o dos vencidos. Apesar de todos os crimes que lhe são imputados, não deixa de ser um ser humano cuja vida foi arrancada pela vontade de um gruo de pessoas que quiseram ficar bem vistas com a decisão tomada, justificando a sua decisão com factos mentirosos. Não é só o facto de terem retirado a vida a uma pessoa sem julgamento, é o terem mentido ao mundo, surpreendido com tal anúncio!
E o que dizer de uma instituição financeira que deveria regular, com integridade, a informação veiculada ao exterior e se chega a saber que é um rio de mentiras que deverão esconder alguns interesses particulares? A mentira serve sempre para esconder algo. E quando se esconde, há algum tipo de interesse…
E, finalmente, a comunicação social… Esta foi a responsável pela mentira erguida à volta da militar norte americana. A precipitação e a pressão não bons aliados de uma imprensa idónea. Há que saber distinguir factos de versões. E a versão escutada não foi a fidedigna… Há que ter calma senão em quem podemos acreditar?
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